11/01/09

Celebrar o futuro


Numa daquelas campanhas inúteis a que os partidos políticos dão extrema importância, o PS lançou, por altura das festas de Natal e Ano Novo, vários cartazes. Num deles inscreveu o slogan É TEMPO DE CELEBRAR O FUTURO. Todos sabemos o que valem estes cartazes. No entanto, a sua leitura revela mais do que os dirigentes partidários gostariam.

Celebrar o futuro, à primeira vista, apenas parece alinhar o partido do governo pela dinâmica da modernidade. Esta, ao contrário das sociedades tradicionais escoradas no passado, vive voltada para o futuro, o lugar onde o bem se consumará.

Mas a questão é um pouco mais complexa. O futuro como promessa radiosa fazia sentido no século XIX, talvez ainda no século XX, para as organizações sociais e políticas que faziam da revolução social o seu programa. Elas eram, de certa forma, puras e virginais relativamente ao exercício do poder, e, por isso, podiam prometer um mundo novo e pleno e mostrar o futuro como o lugar do cumprimento dessa promessa.

Mas o que significará a palavra É TEMPO DE CELEBRAR O FUTURO, na "boca" de um partido no governo? Os antigos sabiam bem que o que se pode celebrar são os grandes feitos. Um feito para o ser tem, obrigatoriamente, de estar consumado, de ser passado. A única coisa que no presente se pode celebrar é essa grandeza realizada. Quando um partido no governo nos diz, à beira das eleições, que o tempo é de celebrar o futuro, isto é, aquilo que não aconteceu, está a confessar a sua inépcia política. Da sua acção passada, nada há para celebrar. Não há feito que mereça memória e comemoração. Resta a expectativa que o buraco vazio do futuro possa trazer qualquer coisa que mereça ser lembrado. Convocar à celebração do futuro é não só celebrar o nada, mas também a confissão de que, no passado que vai ser julgado pelos eleitores, nada foi feito que mereça celebração.

Dito de outra maneira, o cartaz socialista é o que se chama um verdadeiro acto falhado, pelo qual se confessa aquilo que se queria esconder.

1 comentário:

Alice N. disse...

Realmente, não há nada para celebrar; no entanto, as sondagens continuam vantajosas para o PS.
Por mais voltas que dê, não consigo compreender. Aquela gente passou os últimos quatro anos a enterrar mais os portugueses e estes irão dar nova vitória aos seus carrascos? É caso para perguntar se o povo português é masoquista! A ser assim, percebo o entusiasmo do PS relativamente ao futuro.