28/01/09

O sublime terrível

É uma expressão habitual, sobretudo na linguagem religiosa, atribuir a um homem que está a morrer a expressão de que vai do tempo para a eternidade.

Esta expressão nada de facto diria se por eternidade se entendesse aqui um tempo que se estende até ao infinito; porque assim o homem nunca sairia do tempo, mas passaria sempre de um para outro. Por conseguinte, deve por ela entender-se um fim de todo o tempo, com a ininterrupta duração do homem. Mas tal duração (olhada a sua existência como grandeza) deve, no entanto, considerar-se como uma grandeza totalmente incomparável com o tempo, da qual, sem dúvida, não podemos fazer nenhum conceito (a não ser simplesmente negativo). – Esta ideia tem em si algo de atroz, porque conduz, por assim dizer, à beira de um abismo do qual, para quem nele se despenha, nenhum retorno é possível [«No severo lugar, que nada atrás deixa volver, o segura a eternidade com fortes braços», Haller]; e, contudo, este pensamento tem também algo de atraente, pois não se pode deixar de para aí dirigir sempre o olhar aterrorizado [Não conseguem os corações saciar-se de ver, Virgílio]. É o sublime terrível, em parte pela sua obscuridade, em que a imaginação costuma agir com maior poder do que na claridade da luz.
[Kant, O fim de todas as coisas (1794)]

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