A carta rogatória
Como já se percebeu há muito, não nutro qualquer simpatia política por José Sócrates. Considero mesmo que Portugal e o próprio Partido Socialista, embora este seja uma instituição profundamente doente, teriam muito a ganhar, se se livrassem da personagem. Mas há uma coisa que não compreendo: como é que a carta rogatória das autoridades policiais inglesas para as portuguesas surge hoje publicada no Diário de Notícias. O segredo de justiça em Portugal é a coisa menos secreta que se possa imaginar. Toda esta triste história do Freeport, telenovela ao gosto indígena, mostra bem a natureza da sociedade portuguesa e da fragilidade das instituições democráticas. Não estivéssemos na União Europeia, e um golpe militar - como há tempos disse o dr. Mário Soares - já teria posto cobro, ou estaria em preparação para o fazer, ao regime democrático, em nome da moralidade e dos bons costumes. Estas telenovelas têm, assim, um fundo trágico. Representam a manifestação de uma ameaça latente sobre o destino comum. Toda a gente percebe que certos comportamentos não trazem saúde às instituições, mas ninguém parece importar-se. É como se políticos, gente da justiça e jornalistas pensassem que se alguém tem de se afundar, então que vá todo o barco ao fundo. A minha convicção é que se as tropas, num acesso de desvario, saíssem à rua e tomassem conta da casa, não faltaria quem viesse para a rua aplaudir. Foi assim a 28 de Maio de 1926, foi assim a 25 de Abril de 1974, por que razão não seria assim agora?
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