O D. Juan das Beiras
Confesso que Salazar é uma personagem que cada vez me fascina mais. Àquela minha imagem arcaica de um homem velho e trôpego, com uma voz irritantemente insuportável, tenho vindo a opor a do grande sedutor, uma espécie de D. Juan da política que deslumbra as adolescentes, as casadas e as viúvas e enfurece os concorrentes. Tudo isto vem a propósito da criação de um pseudo-museu na terra onde o ditador nasceu. Uma esotérica organização, União dos Resistentes Antifascistas Portugueses, acha que o projectado museu deve ser condenado pela Assembleia da República e vai daí recolheu assinaturas e conseguiu que o debate fosse feito.
O que me interessa, porém, é a reacção dos partidos políticos. Poderíamos dizer que os nossos deputados se comportaram como o cão de Pavlov. Ouviram o nome de Salazar e começaram a espumar e a salivar. Os de esquerda espumaram de ódio; os de direita salivaram de prazer. Os argumentos, aliás geniais, sobre tão importante assunto (Público) são apenas o revestimento da espuma e da saliva. Como se esperava, os de esquerda foram ferozmente de esquerda – o PS agradeceu para dar um ar de esquerda antifascista, e os de direita não conseguiram disfarçar as tremuras no coração e os delíquios que o homem ainda lhes provoca.
Quem meditar no assunto fica perplexo. A esquerda deveria ser favorável ao projecto: por que razão haveria de ter medo do fantasma de Santa Comba? Não está ele morto e enterrado? Que interesse terá uma casa com meia dúzia de objectos pessoais, talvez umas ceroulas e a camisa de dormir, para ser frequentada pelos fiéis? O regime democrático está assim tão débil que não possa permitir uma «sala de chuto» para saudosistas dos bons velhos tempos em que havia, segundo eles, quem mandasse? Mas não, a esquerda lá teve que reagir como toda a gente esperava: espumou pela boca e argumentou contra a iniciativa de um presidente de câmara falho de ideias.
Já a direita tinha todas as razões e mais uma para ser contra o projecto. Por que motivo, perguntará o leitor. Devido ao seu passado. A direita precisa de se mostrar liberal e democrática, coisas que a sombra de Santa Comba sempre abjurou. Em vez de salivar de alegria e argumentar sobre a putativa justeza do projecto, deveria raciocinar friamente e mandar o autarca do PSD ter juízo. Não mexer nos mortos e evitar abrir os armários de família, por causa dos esqueletos. Mas a inteligência também não abunda por estes lados e lá começou a direita a salivar, o coração a bater descompassado e os tornozelos a tremer.
Como se vê, o homem tinha qualquer coisa que não deixa este país em paz e impede os doutos políticos que nos representam de usar a cabeça. No fundo, não há deputadozinho, de esquerda ou de direita, que não traga o seu salazarzinho de estimação no coração, uns com amor, outros com ódio, mas ninguém está livre do D. Juan das Beiras.
O que me interessa, porém, é a reacção dos partidos políticos. Poderíamos dizer que os nossos deputados se comportaram como o cão de Pavlov. Ouviram o nome de Salazar e começaram a espumar e a salivar. Os de esquerda espumaram de ódio; os de direita salivaram de prazer. Os argumentos, aliás geniais, sobre tão importante assunto (Público) são apenas o revestimento da espuma e da saliva. Como se esperava, os de esquerda foram ferozmente de esquerda – o PS agradeceu para dar um ar de esquerda antifascista, e os de direita não conseguiram disfarçar as tremuras no coração e os delíquios que o homem ainda lhes provoca.
Quem meditar no assunto fica perplexo. A esquerda deveria ser favorável ao projecto: por que razão haveria de ter medo do fantasma de Santa Comba? Não está ele morto e enterrado? Que interesse terá uma casa com meia dúzia de objectos pessoais, talvez umas ceroulas e a camisa de dormir, para ser frequentada pelos fiéis? O regime democrático está assim tão débil que não possa permitir uma «sala de chuto» para saudosistas dos bons velhos tempos em que havia, segundo eles, quem mandasse? Mas não, a esquerda lá teve que reagir como toda a gente esperava: espumou pela boca e argumentou contra a iniciativa de um presidente de câmara falho de ideias.
Já a direita tinha todas as razões e mais uma para ser contra o projecto. Por que motivo, perguntará o leitor. Devido ao seu passado. A direita precisa de se mostrar liberal e democrática, coisas que a sombra de Santa Comba sempre abjurou. Em vez de salivar de alegria e argumentar sobre a putativa justeza do projecto, deveria raciocinar friamente e mandar o autarca do PSD ter juízo. Não mexer nos mortos e evitar abrir os armários de família, por causa dos esqueletos. Mas a inteligência também não abunda por estes lados e lá começou a direita a salivar, o coração a bater descompassado e os tornozelos a tremer.
Como se vê, o homem tinha qualquer coisa que não deixa este país em paz e impede os doutos políticos que nos representam de usar a cabeça. No fundo, não há deputadozinho, de esquerda ou de direita, que não traga o seu salazarzinho de estimação no coração, uns com amor, outros com ódio, mas ninguém está livre do D. Juan das Beiras.
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