A SIC on-line disponibiliza (clicar
aqui) um ranking escolar baseado nos resultados dos exames. Salientem-se as seguintes notas:
1. Nos primeiros vinte lugares estão 15 escolas privadas (75%) e 5 escolas públicas. Nos primeiros dez lugares só há uma escola pública, no quarto, isto é, 90% dos melhores resultados são obtidos por escolas privadas.
2. A média de exame da melhor escola é de 13, 96 (Colégio São João de Brito). A melhor escola pública (Infanta D. Maria, de Coimbra) obteve uma média de 13,34.
3. No distrito de Santarém, os melhores resultados são os do CEF, de Fátima, (privado) com uma média de 10,98. A seguir surgem as Escolas Secundárias St.ª Maria do Olival, Tomar, 10,81, Ourém, 10,51, Entroncamento, 10,42, Ginestal Machado, Santarém, 10,42, Sá da Bandeira, 10,41, Alcanena, 10,39, Artur Gonçalves e Maria Lamas, ambas de Torres Novas, 10,30, Solano de Abreu, Abrantes, 10,29, Jácome Ratton, de Tomar, 10,18, Colégio S. Miguel (privado), Fátima, 10,16, Manuel Fernandes, Abrantes, 10,11.
4. A melhor escola obtém uma média que equivale a menos de 70% do máximo possível que poderia obter (20 = 100%). Obtém 69,8%. Note-se bem que o desempenho das melhores escolas é, mesmo nestas, mediano.
5. As escolas de Torres Novas obtêm 51,5% do máximo possível, o que representa um resultado inferior à melhor escola de apenas 18,3 pontos percentuais. Julgo, no entanto, que esta diferença cresceu relativamente ao ano passado cerca de 1 a 2%, mas não pude confirmar.
6. Apesar das diferenças culturais e sociais existentes entre as populações das escolas privadas e das escolas públicas, estas fazem verdadeiros milagres. Pense-se apenas na diferença existente entre a população do S. João de Brito e as das escolas torrejanas.
7. Com excepção das escolas de Santarém, os melhores resultados do distrito concentram-se todos no Ribatejo Norte. Mas se olharmos atentamente para os resultados, descobrimos que são muito semelhantes. Entre o CEF (54,9%) e a Manuel Fernandes (50,6%) há apenas uma diferença de 4,3%.
8. A análise dos resultados do distrito de Santarém mostra o equívoco por onde se estão a lançar várias escolas, país fora. Há um conjunto de dirigentes escolares convencidos de que os resultados escolares estão ligados à gestão das escolas. Baseados neste pressuposto estão a lançar campanhas de burocratização da docência até à exaustão. O que os resultados mostram é outra coisa: o grau menor ou maior de urbanização da população escolar é fundamental para os resultados que se obtêm. Vejam-se os resultados de Santarém em que todas as escolas das zonas mais agrícolas do distrito obtêm médias abaixo de 10 valores.
9. Comentário final: As escolas que estão a intensificar os processos burocráticos, em nome de uma gestão eficiente, estão a roubar os professores aos alunos. O que os alunos das escolas precisam é de experiências culturais e simbólicas intensas e uma transmissão do currículo com seriedade e exigência. Para isso é preciso que os professores se concentrem no seu trabalho: ensinar. A tragédia que se está a desenhar começa a tornar-se clara. Os professores estão a ser desviados do seu trabalho efectivo para tarefas absolutamente irrelevantes para as aprendizagens dos alunos. Temos já escolas com um nível de organização burocrática excepcional, mas que ensinam pouco. Não há tempo. Há um caminho perigoso para os alunos que muitos professores estão a trilhar embalados pelo delírio do eduquês, do sociologês e do economês. As escolas estão a agir e a preocupar-se com o irrelevante.