Bocage 10 - Na solidão do cárcere
Quando rósea nuvem sobe o dia,
De risos esmaltando a Natureza,
Bem que me aclare as sombras da tristeza,
Um tempo sensabor me principia.
Quando, por entre os véus da noite fria,
A máquina celeste observo acesa,
De angústia, de terror a imagem presa
Começa a devorar-me a fantasia.
Por mais ardentes preces que lhe faço,
Meus ais não ouve o númen sonolento,
Nem prende a minha dor com ténue laço.
No inferno se me troca o pensamento;
Céus! Porque hei-de existir, porquê, se passo
Dias de enjoo e noites de tormento.

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