Eugénio de Andrade - II. A Música
Os álamos.
Essa música
de matutina cal.
Doces vogais
de sombra e água
num verão de fulvos
lentos animais.
Calhandra matinal
na areia
branca de junho.
Acidulada música
de cardos
e navalhas.
Música do fogo
em redor dos lábios.
Desatada
à roda da cintura.
Entre as pernas
junta.
Música
das primeiras chuvas
sobre o feno.
Só aroma,
abelha de água.
Repouso e regaço
onde o lume breve
duma romã brilha.
Música, levai-me:
Onde estão as barcas?
Onde são as ilhas?
Eugénio de Andrade, Obscuro Domínio
1 comentário:
Belíssimo!
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