15/07/07

Eugénio de Andrade - II. A Música

Os álamos.

Essa música
de matutina cal.

Doces vogais
de sombra e água
num verão de fulvos
lentos animais.

Calhandra matinal
na areia
branca de junho.

Acidulada música
de cardos
e navalhas.

Música do fogo
em redor dos lábios.

Desatada
à roda da cintura.

Entre as pernas
junta.

Música
das primeiras chuvas
sobre o feno.

Só aroma,
abelha de água.

Repouso e regaço
onde o lume breve
duma romã brilha.

Música, levai-me:

Onde estão as barcas?
Onde são as ilhas?

Eugénio de Andrade, Obscuro Domínio