Luchino Visconti - O Leopardo
Eis a história da Europa. Ali, num dos mais famosos bailes de todo o cinema, vê-se a emergência do mundo que ainda é o nosso. Numa Itália em processo de unificação, 1860, a jovem burguesa, Angélica (Claudia Cardinalli) dança com o Príncipe de Salina, Don Fabrizio (Burt Lancaster), tio de Tancredi (Alain Delon), noivo de Angélica. O baile é o momento simbólico em que a antiga aristocracia abre os braços aos senhores do dinheiro, abraça-os, de facto, ao ritmo envolvente da música. Mas se olharmos a montante e a jusante desde momento simbólico, o que encontramos na história da Europa? A montante, a Revolução Francesa (1789) e o triunfo do 3.º estado, da burguesia, para falar em linguagem corrente. A jusante, a história é menos jubilosa: duas guerras mundiais, que começaram por ser duas guerras civis europeias (1914-18; 1939-45).
O Príncipe de Salina julgava salvar o seu mundo naquela dança. Mas por trás da angélica face de Angélica, escondia-se o braço férreo do dinheiro. Os valores da aristocracia morreram ali. Um mundo mais inflexível tinha chegado à dominação. Talvez a pergunta que devamos fazer seja esta: como se passa da Revolução de 1789 paras as catástrofes de 1914-18 e 1939-45? Resposta: a dançar.
Pena que não tenhamos acesso à versão original de Visconti, em italiano, mas a uma dobragem em espanhol. Enfim, é a Europa.
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