19/07/07

Eugénio de Andrade - VI. As Palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade, Coração do Dia

2 comentários:

jlf disse...

Lembro-me muito bem deste poema.
Acho-o estupendo.
Também gosto muito do poeta E. de Andrade.

Anónimo disse...

tb é um dos meus preferidos. bom gosto...