02/07/07

Bocage 07 - O autor aos seus versos

Chorosos versos meus desentoados,
Sem arte, sem beleza e sem brandura,
Urdidos pela mão da Desventura,
Pela baça Tristeza envenenados:

Vede a luz; não busqueis, desesperados,
No mudo esquecimento a sepultura;
Se os ditosos vos leram sem ternura,
Ler-vos-ão com ternura os desgraçados.

Não vos inspire, oh versos, cobardia
Da sátira mordaz o furor louco,
Da maldizente voz a tirania:

Desculpa tendes, se valeis tão pouco;
Que não pode cantar com melodia
Um peito de gemer cansado e rouco.

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