A novidade na vitória de Obama
Na vitória de Barack Obama há uma coisa que surpeende. Não que tenha sido um afro-americano, como agora se diz, a vencer a eleição. Tão pouco surpreende que alguém com um nome tão muçulmano tenha ganho em terras americanas. O que surpreende mesmo é os americanos terem escolhido alguém com um perfil tão aristocrático em detrimento do perfil burguês-popular de John McCain. Sim, isso é a verdadeira novidade. Mas também aí reside o perigo para Obama. Aquela terra não foi feita por nem para aristocratas. Aguardemos.
2 comentários:
Estou contente com a eleição de Obama. Um dos "perigos", para além do que refere, é a enorme (excessiva?) esperança que tanta gente deposita nele - esperança que quase o eleva ao estatuto de um deus que vai recriar o mundo. As expectativas são muito elevadas. Espero que ele consiga dar forma e conteúdo à tão apelativa frase: "Yes, we can!"
O que mostra, claramente, este post é o medo de acreditar, somado à imensa confusão sobre perfis e realidades. É óbvio que o homem não vai salvar o mundo nem deixar de colocar os EUA à frente de (quase) tudo. Mas é no parênteses que está a diferença, a grande diferença, em relação a Mc Cain e a oito miseráveis anos. Quanto a perfis, para lá de,eufemisticamente dizendo, resquícios pulido-valentinos na sua afirmação, o que ressalta é o desconhecimento das personagens que estiveram em cena. Se há alguém naquela corrida com perfil aristocrata, esse era sem dúvida McCain, aliás, descendente de uma estirpe de oficiais da Marinha dos EUA, com pai e avô almirantes. E o peso do poder militar nos EUA não é bem o que por cá se usa. Perfil burguês-popular de McCain, só por grande distração.
Não interessa se a terra foi feita por aristocratas, ou se Obama tem tal perfil, o que interessa é que soube dar esperança a quem já a havia perdido há muito, soube sempre estar entre quem mais precisava e focar os temas mais candentes da sociedade americana. E soube fazer-se ouvir e fazer com que o ouvissem, basta reparar na estrutura social e etária do seu voto. Mc Cain não perdeu por haver uma debandada dos votantes do seu campo ideológico, antes porque Obama soube dar razões para muitos votarem pela primeira vez. Se muitos deles vão sair desiludidos? É evidente que sim, a começar por muitos dos seus amigos europeus, mas este futuro presidente trouxe também a esperança da mudança a muitos que dela nada sabiam.
Voltando ao seu escrito e às influências pulido-valentinas, enquanto o original, tenho claro que ele escreve muitas vezes o que escreve porque sim ou porque se acha um vidente incompreendido (Obama nunca ganharia a Clinton, pois não; Obama seria arrasado por McCain, era mais do que manifesto), em si vejo o medo de ter esperança, porque pressinto que aderiu claramente ao discurso de Obama, muito para além do manifesto interesse que diz ter. O que lhe falta é aquilo que faz de título de um livro de Obama, de 2005 ou 2006, a audácia da esperança. Vá lá, não lhe faz mal nenhum ter um pouco, de uma ou de outra, ou das duas, tanto faz, vai ver que não se sentirá mal. Se vai ficar desiludido? É certo que vai, mas a vida, afinal não é só os trâmites de um mundo de aventuras que gosta de citar em Cioran, a irrupção e a derrocada das coisas, o mundo, e a vida, é a sua duração e, com ela, todas as enfadonhas coisas como a esperança e a decepção que nela cabem, para lá de clímaxes de encher o olho. Mas disso fala melhor do que ninguém a música de Mozart, que soube pôr nos pequenos espaços toda a subtileza que não se esgota no " início e no termo dos instantes".
Cumprimentos
JB Lemos
Enviar um comentário