08/11/08

Manifestações e milagres

Hoje os professores portugueses manifestam-se, mais uma vez, em Lisboa. Desta vez não participarei. Não é que esteja em desacordo com o motivo, ou os motivos, da manifestação. Pelo contrário. O que se passa é de tal maneira grave que esta e outras manifestações fazem todo o sentido. É preciso parar estas pessoas que tomaram conta da educação em Portugal. Aquilo que elas pensam sobre a educação e o seu papel na sociedade é tão tenebroso e niilista que pôr fim às suas veleidades se tornou um imperativo categórico. Eu, porém, já esgotei o meu stock de participações em manifestações com a de 8 de Março. Para mim, para a forma como vejo o mundo, esse desfilar representou já um enorme sacrifício. Mas há ainda uma outra coisa.

Mesmo que o desvario da actual política educativa termine, reconheço que nenhuma esperança acalento sobre o futuro da escola pública portuguesa. As forças negativas são imensas, têm muita força e estão instaladas em importantes lugares da decisão educativa e da produção da ideologia que permeia o sistema. Por detrás destes conflito entre ME e professores movem-se sombras bem poderosas, gente que necessita de um modelo idêntico ao do governo, como base para as suas carreiras, na universidade, nas ese's, nos órgãos ministeriais, na edição de livros, nos projectos de «investigação», aqui e ali onde o dinheiro da educação é o maná que alimenta a vidinha de muitos que colonizam, fora das escolas, o palco e o discurso educativos. Dos sindicatos, nem vale a pena falar. Uma escola decente, com um currículo decente e orientado para as necessidades da comunidade e dos alunos, uma escola onde os professores possam ensinar e os alunos aprender, uma escola dessas tornou-se, um pouco por todo o Ocidente e com algumas raras e honrosas excepções, uma utopia. Eu sei que os professores que pensam como eu perderam. Mais, sei isso há anos. A diferença é que até aqui ainda podíamos resistir, ainda podíamos dizer que a escola era um lugar sério e de trabalho. Com a actual governação essa resistência tornou-se quase impossível. É preciso parar o actual desvario, mas não se tenha grandes ilusões sobre o que virá a seguir. Só um milagre poderia alterar radicalmente o rumo da educação em Portugal e, de certa maneira, no Ocidente. Mas, como se sabe, os milagres não fazem parte do Zeitgeist.

2 comentários:

maria correia disse...

Concordo em absoluto. Atrever-me-ia a recordar um lvro saído há pouco tempo do prelo pelas Edições Pedago: O Capitalismo Académico, uma compilação de artigos de vários intelectuais sobre a situação actual do ensino no mundo ocidental. O título já diz bastante. No entanto, como enquanto há vida, há esperança, embora partilhe da opinião deste bloguer, atrevo-me a pedir ao Zeitgeist um milagre...

zemanel disse...

JCM:
Não leve a mal este meu comentário. Digo-o com sinceridade ( e sem qualquer tom jocoso ou insultuoso):
Pior que um intelectual iludido, é o intelectual desiludido.
... isso penso eu.
Não lhe falo de milagres - falamos do desenvolvimento político pelo uso do maior espaço democrático da história da humanidade:as ruas.
Há esperanças que não ficam à espera.
Cumprimentos,