13/11/08

Intolerável

Isto está a tornar-se intolerável. Os alunos não podem andar a despejar ovos sobre os governantes da educação. Quem está por detrás deles deveria ter vergonha do que anda a fazer. Mas isto não significa, porém, que esta equipa ministerial esteja inocente. Deitaram a palha e atearam o fogo. Esqueceram-se que não eram bombeiros. As escolas precisam de paz para trabalhar. Chegou a altura daqueles que conduziram a educação a este estado se irem embora. Mais valia que fossem pelo seu próprio pé. Mas, repito, os alunos devem comportar-se civilizadamente. As liberdades não estão suspensas. Seria bom que os professores, dentro das suas possibilidades e elas são poucas, pois durante 3 anos foram desgastadas, pelo ME, até mais não poder, dissuadissem a criançada com as hormonas em ebulição de fazer estas tristes figuras.

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Jorge Maia,

Se não foram os professores que instigaram as crianças, como podem agora dissuadi-las?

Serão os interesses das crianças comuns aos dos professores?

Saberão as crianças o que querem e o que fazem?

Tirando a demissão da ministra, todos os professores (ou a maioria) comungam dos mesmos objectivos e defendem as mesmas propostas? Que propostas concretas são essas?

Anónimo disse...

Viva Zé,

Julgo que os professores têm, deontologicamente, a obrigação de fazer a apologia da ordem pública e do respeito pelas liberdades, inclusive a dos governantes. Os professores não mandaram os alunos fazer aquels disparates, mas podem falar com eles, com a pouca autoridade que ainda lhe resta, depois de 3 anos de campanha agressiva.

Aquelas crianças são adolescentes com hormonas em fase de regulação, e são facilmente excitáveis pelas «jotas» de serviço, penso eu.

Os interesses dos alunos e professores são comuns: uma escola boa e que funcione com decência. Estes interesses são comuns e são muito importantes.

De resto, o conflito entre profs e ME é um conflito que não é apenas corporativo, embora também o seja e isso não tem qualquer problema (todos pertencem a corporações, mesmo os que, agora, dentro ou fora do governo se transformaram em justiceiros e caça-corporações).

Há uma concepção de ensino subjacente ao ECD que é largamente rejeitado, pois anula completamente a liberdade de ensinar, que deve constituir o núcleo central da deontologia docente. É como se o Min. da Justiça definisse que os advogados só podem ter uma estratégia de defesa. Isto que se está a passar é de uma gravidade absoluta, para a vida democrática e para a formação das futuras gerações: a erradicação do pluralismo pedagógico é pura e simplemente algo de tenebroso, e o ECD fá-lo. Isto ainda é um interesse comum aos professores, aos alunos e à comunidade política.

O problema não é o facto de os professores possuirem várias concepções de ensinar e de escola. Isso é bom e salutar. O problema é que o governo pretende impor uma única concepção do ensino aos professores. É a liberdade que está em jogo, também.

O que une os professores é de facto uma coisa negativa: o conjunto de malfeitorias de que foram vítimas. O facto de não possuirem concepções pedagógicas e educacionais comuns não é grave. Amtes pelo contrário. A escola precisa de diversidade e não de pensamento único.

Sobre propostas concretas, existem professores que elaboraram propostas alternativas de avaliação, estão disseminadas pelos blogues. Mas há mais coisas concretas contra as quais os professores estão: a divisão artificial da carreira em duas, o novo modelo de gestão, o estatuto do aluno. O problema é que o pensamento dos docentes está impedido de ter uma voz. Os sindicatos representam os interesses ligados a aspectos da carreira. Mas uma Ordem deveria ser o lugar onde as concepções de ensino e de educação dos professores deveriam encontrar uma lugar e uma voz. Isso está-nos radicalmente interdito pelo poder político.

Há uma outra coisa que também não nos é reconhecida: o papel eminentemente político e de soberania que exercemos. São os professores que, nas sociedades modernas e nas escolas públicas, transmitem os valores do consenso social que está na base de sociedades que vivem sob uma constituição democrática. O verdadeiro papel dos professores, nas sociedades modernas, é criar continuamente o desejo de soberania, através da transmissão de um currículo politicamente determinado, currículo que visa a manutenção e a continuidade dessa comunidade. E é, por este motivo, que a Educação não se pode analogar à Saúde, embora isso seja feito por toda a gente.

Por fim, mesmo que os professores, que não têm voz, não tenham propostas concretas para contrapor às da Ministra, isso não é grave. Modelos de avaliação há muitos. E há países onde a educação funciona muito bem sem que haja avaliação formal de professores: a Finlândia.

Mais. Os problemas da educação não se encontram onde o ME está a mexer, mas onde não mexe. Na estrutura do currículo, na avaliação dos alunos e na oferta consistente de possibilidades de formação para alunos pouco interessados em formação meramente académica.

Mas a minha opinião sobre tudo isto resume-se ao seguinte: a educação pública em Portugal é um caso perdido. Assistimos a uma tentativa de eutanásia.