03/10/09

A rejeição


Terá o PSD percebido por que motivo perdeu as eleições? O pior que lhe pode acontecer é pensar que a acção de Cavaco, no caso das putativas escutas, ou a idade e pouco capacidade comunicativa da dr.ª Ferreira Leite são explicações suficientes para o facto do PSD não ter conseguido tirar provento do descontentamento com o governo de Sócrates. A verdadeira razão, aquela que é mais substancial, reside no facto de as pessoas terem medo do PSD. Medo de quê? De certa maneira, daquilo que poderíamos chamar programa oculto. Mesmo que isso seja ilusório, o eleitorado desconfia que o PSD, mal se apanhe no poder, irá destruir, sob o nome do défice, da eficácia e da iniciativa privada, o pouco que os portugueses têm do Estado social, a Saúde e a Educação. O PSD prometeu menos Estado. Tirando alguns liberais - muitos dos quais vivem desse mesmo Estado -, os portugueses desconfiam que esse menos Estado significará que muitos serviços públicos sofríveis irão parar à voragem daqueles nossos empresários habituados a viver destas iniciativas políticas, que lhes permitem bons lucros a troco de risco quase nulo e de serviços que passam de sofríveis a maus. Foi isto que afastou os portugueses do PSD. Se a direita e o PSD querem voltar ao poder, terão de deixar de assustar as pessoas. A liberalização da saúde e da educação, seja qual for a forma que tome, não tem de ser obrigatoriamente o programa da direita. Pelo contrário, há um espaço enorme a ser preenchido aí, nomeadamente na luta contra os maus serviços que se prestam, o combate às políticas de facilidade na educação ou de pouca atenção aos doentes na saúde. As pessoas percebem isso e estão dispostas a votar nisso. O que não estão dispostas é a embarcar em novas aventuras privatizadoras. Esta foi a causa da rejeição do PSD. Partido que, rejeitado pelo eleitorado e talvez pouco iluminado pela razão, pensa já em apresentar uma moção de rejeição do programa do governo. Portanto, parece que tudo aponta para fazer de Sócrates uma vítima. Ele não se fará rogado.

2 comentários:

José Ricardo Costa disse...

Como explicas então os votos que foram direitinhos do PSD para o dr. Paulo Portas? Que eu saiba, a democracia cristã do CDS não é propriamente a do Evangelho nem o dr Paulo Portas um arauto do estado social. Terão medo do PSD mas não terão medo do CDS?

JR

Jorge Carreira Maia disse...

Basta explicar com os quase 30% de votos no próprio PSD. O problema é que com 40% dos votos a direita não governa. Precisa de mais votos e precisa que as pessoas não tenham medo. Neste momento têm-no. É provável, por outro lado, que tenham mais medo do PSD do que do CDS-PP. O PSD é mais credível. Mais, a direita nunca foi liberal em Portugal. E o dr. Cavaco governou 10 anos não por ser liberal, mas porque teve dinheiro para fazer crescer o Estado social. Governou, em questões sociais à esquerda, mesmo com as ilusões mais escabrosas da esquerda sobre a educação.