O sentido da revolta dos professores
Voltemos ao conflito governo-professores. Neste momento, existem duas leituras que dominam a opinião pública. Por um lado, os professores são considerados vítimas da prepotência do ministério e da ministra. Por outro, a ministra é uma reformista que os professores rejeitam, pois está a acabar-lhe com os privilégios. Mas será isto o essencial? Será este o verdadeiro sinal que deveremos retirar do conflito. Sou professor, e por isso sou suspeito, mas tentemos uma outra leitura.
O que rejeitam os professores? Em primeiro lugar, rejeitam, de facto, um tratamento arbitrário a que foram submetidos impiedosamente durante três anos (poderia explicar como muitas das medidas tomadas foram completamente arbitrárias e injustas, fica para outra ocasião). Mas curiosamente não foi isto que desencadeou os protestos massivos a que se assiste. O que exasperou os professores foi o crescimento desmesurado da burocracia e a diminuição da importância dada à transmissão do saber.
É neste dois sinais que podemos encontrar uma interpretação muito mais interessante da actual situação. Os professores, talvez pela primeira vez em Portugal, tornam-se um sinal daquilo que é mais avançado ao nível social. Nas sociedades pós-modernas, ditas sociedades do conhecimento, a burocracia tornou-se o maior inimigo da adequação ao mundo em que vivemos. Por outro lado, se queremos viver numa sociedade do conhecimento, então é necessário que alguém, os professores, o transmita e fomente o desejo de conhecer.
Contrariamente aos adeptos do reformismo ministerial, os professores querem uma escola mais adaptada à realidade: uma escola sem burocracia e concentrada e centrada no acto de ensinar. Retrógrados socialmente são a ministra, os secretários de estado, o primeiro-ministro, os comentadores que apoiam estas medidas. Pretendem uma escola organizada burocraticamente como se vivêssemos em plena era industrial. Os modelos de gestão e de avaliação propostos talvez fossem adequados há 50 ou 60 anos, ainda quando o taylorismo e o fordismo tinham algum sentido. Hoje em dia, na chamada sociedade do conhecimento, aquela a que se gosta de referir o primeiro-ministro, não faz sentido o tipo de controlo que se propõe.
Precisamos de uma escola muito menos burocrática e não mais como quer Maria de Lurdes Rodrigues. Precisamos de uma escola mais centrada no saber e não menos como está a ser imposto aos professores. Não é por acaso que o conflito está muito para além das estruturas sindicais: é uma guerra contra uma visão ultrapassada da escola, uma visão que prolongará a agonia do país.
Os professores surgem como o primeiro grupo social que rejeita claramente a visão burocrática da vida profissional. Não rejeitam a avaliação, mas uma escola toda ela organizada burocraticamente com a finalidade não de ensinar, mas de se avaliar a si mesma e festejar na excelência da organização burocrática o seu esplendor. Os professores querem concentrar-se no ensino, no saber e nos seus alunos, procuram estruturas mais leves, menos hierarquizadas, mais adequadas ao tempo em que se vive. O ministério multiplica as hierarquias, intensifica a burocracia, impõe uma máquina pesadíssima e sem qualquer utilidade na sociedade do conhecimento.
Embora não goste da palavra, se há neste conflito reaccionarismo social, ele está todo do lado do ministério. Quer impor uma visão de escola do passado. Seria bom que, para além das leituras mais imediatas do conflito, se começasse a perceber o que há de novo, do ponto de vista social, nesta revolta extra-sindical dos professores.
Em tudo isto há um equívoco estranho e que mostra a fragilidade cultural dos dirigentes políticos: como será possível deslocar um país para a sociedade do conhecimento, se se hostiliza os primeiros e principais agentes de distribuição social desse conhecimento? Que um engenheiro não o entenda, compreende-se; mas uma socióloga? Eis a prova de que ser universitário está longe de ser uma mais-valia.
O que rejeitam os professores? Em primeiro lugar, rejeitam, de facto, um tratamento arbitrário a que foram submetidos impiedosamente durante três anos (poderia explicar como muitas das medidas tomadas foram completamente arbitrárias e injustas, fica para outra ocasião). Mas curiosamente não foi isto que desencadeou os protestos massivos a que se assiste. O que exasperou os professores foi o crescimento desmesurado da burocracia e a diminuição da importância dada à transmissão do saber.
É neste dois sinais que podemos encontrar uma interpretação muito mais interessante da actual situação. Os professores, talvez pela primeira vez em Portugal, tornam-se um sinal daquilo que é mais avançado ao nível social. Nas sociedades pós-modernas, ditas sociedades do conhecimento, a burocracia tornou-se o maior inimigo da adequação ao mundo em que vivemos. Por outro lado, se queremos viver numa sociedade do conhecimento, então é necessário que alguém, os professores, o transmita e fomente o desejo de conhecer.
Contrariamente aos adeptos do reformismo ministerial, os professores querem uma escola mais adaptada à realidade: uma escola sem burocracia e concentrada e centrada no acto de ensinar. Retrógrados socialmente são a ministra, os secretários de estado, o primeiro-ministro, os comentadores que apoiam estas medidas. Pretendem uma escola organizada burocraticamente como se vivêssemos em plena era industrial. Os modelos de gestão e de avaliação propostos talvez fossem adequados há 50 ou 60 anos, ainda quando o taylorismo e o fordismo tinham algum sentido. Hoje em dia, na chamada sociedade do conhecimento, aquela a que se gosta de referir o primeiro-ministro, não faz sentido o tipo de controlo que se propõe.
Precisamos de uma escola muito menos burocrática e não mais como quer Maria de Lurdes Rodrigues. Precisamos de uma escola mais centrada no saber e não menos como está a ser imposto aos professores. Não é por acaso que o conflito está muito para além das estruturas sindicais: é uma guerra contra uma visão ultrapassada da escola, uma visão que prolongará a agonia do país.
Os professores surgem como o primeiro grupo social que rejeita claramente a visão burocrática da vida profissional. Não rejeitam a avaliação, mas uma escola toda ela organizada burocraticamente com a finalidade não de ensinar, mas de se avaliar a si mesma e festejar na excelência da organização burocrática o seu esplendor. Os professores querem concentrar-se no ensino, no saber e nos seus alunos, procuram estruturas mais leves, menos hierarquizadas, mais adequadas ao tempo em que se vive. O ministério multiplica as hierarquias, intensifica a burocracia, impõe uma máquina pesadíssima e sem qualquer utilidade na sociedade do conhecimento.
Embora não goste da palavra, se há neste conflito reaccionarismo social, ele está todo do lado do ministério. Quer impor uma visão de escola do passado. Seria bom que, para além das leituras mais imediatas do conflito, se começasse a perceber o que há de novo, do ponto de vista social, nesta revolta extra-sindical dos professores.
Em tudo isto há um equívoco estranho e que mostra a fragilidade cultural dos dirigentes políticos: como será possível deslocar um país para a sociedade do conhecimento, se se hostiliza os primeiros e principais agentes de distribuição social desse conhecimento? Que um engenheiro não o entenda, compreende-se; mas uma socióloga? Eis a prova de que ser universitário está longe de ser uma mais-valia.
1 comentário:
Esperemos que manifestação para 8 de Março tenha a força necessária para acabar com a situação da «Sinistra Ministra». Ou seja, obrigá-la a demitir-se e fazer com que o ministério da educação e o governo tenham a decência, sim, no mínimo, a decência de repensar a situação, de avaliar as novas medidas e a sua implementação dentro de prazos aceitáveis, e não só, de reformular o sistema de forma a dar espaço aos professores e aos alunos, também, para respirar...e ensinar, no caso d euns e de aprender, no caso de outros. Foi interessante para mim também a breve leitura que o autor do blogue possibilitou aqui, de blogues de professores...Embora não leccione, estou, como cidadã, completamente ao lado desta luta. E vejo com muito agrado que, afinal, ainda existe espírito de luta e de iniciativa por parte dos portugueses e dos professores, em particular. A greve dos argumentistas mudou um sistema. A união ainda faz a força, neste Portugal que parecia ter-se demitido. Recordo Pessoa: Portugal, é Hora!
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