17/03/08

Educação, o tempo das citações

Hoje estamos em tempo de citações. David Justino, um ex-ministro da educação e um homem que enquanto ministro não se esqueceu de lançar a sua confusão no sistema, cita o velho Oliveira Martins que escreve a 24 de Agosto de 1888: «O grande defeito do ensino oficial português está em que os compêndios são maus, os professores piores, e os programas, trasladados das escolas europeias, seriam excelentes por vezes, se não fossem puras hipóteses burocráticas.» Paulo Guinote responde com uma citação das Farpas de Ramalho Ortigão, uns anos mais velhas: «Para que o Liceu operasse ao cabo de um ano de exercício a reforma completa ou a aniquilação absoluta de todos os colégios de Lisboa, bastaria simplesmente, quaisquer que fossem os programas de ensino, que no liceu se estabelecesse a seguinte ordem interna. Isto é: Que se prefixasse a hora da entrada às 8 horas da manhã e a saída ás 5 da tarde. Que uma parte do pessoal docente fosse revezadamente obrigado a permanecer no edifício durante esse espaço de tempo. Que desde o momento da primeira chamada, até ao momento da saída, nunca mais o aluno fosse abandonado pela vigilância dos seus pedagogos.»

Como se vê, os problemas não são de hoje e as soluções também não. Andamos neste imbróglio desde o século XIX e, aposto, não é no próximo que sairemos de lá. Há uma coisa, porém, que ressalta: a ideia de que a escola deve moldar e criar as pessoas que as nossas elites gostariam de ter como povo. Desde Ramalho Ortigão até à Ministra da Educação actual que as elites portuguesas vivem no devaneio de alterar a herança genética do pobre português através da educação. Mais de um século de desmentidos práticos não foram suficientes para tornar patente a inanidade do projecto. Se a prova empírica não é suficiente, resta-nos a constatação de que as nossas elites têm a mesma pouca capacidade de aprendizagem que a ignara massa popular que elas tentam, com desespero e sem proveito, educar.

Sem comentários: