12/03/08

A Igreja e os professores

A Igreja, pela voz de dois dos seus mais destacados membros, D. José Policarpo e D. Carlos de Azevedo, sem se intrometer no conflito entre professores e governo, veio dizer aquilo que deveria ser claro e manifesto para a opinião pública: os professores são o grupo mais decisivo para o futuro de Portugal, mais decisivo do que os políticos, os técnicos e os financeiros. E D. Carlos de Azevedo não se coíbe de afirmar que «temos muita estima pela sua acção».

O que distingue estes homens da Igreja dessa gente que escreve nos jornais contra o professorado ou os políticos que decidiram sacrificar os professores na praça pública? A distinção reside no facto dos bispos pertencerem a uma instituição com dois mil anos, uma instituição que viu nascer e morrer muita coisa e que, ao longo de séculos, aprendeu a distinguir o essencial do acessório. A Igreja não está a fazer um favor aos professores, a Igreja partilha com os professores, mesmo os ateus e os agnósticos, princípios e valores: a educação do espírito, a importância do esforço e da ordem, a necessidade de dedicação ao estudo, o respeito pela autoridade. Reconhece também a Igreja a importância da estabilidade das instituições e a necessidade de respeito por aqueles que funcionam como modelos formadores das novas gerações. Tudo isto é já estranho para uma geração de políticos que cresceu na conspiração palaciana, de gente pragmática que acha que os fins justificam os meios, de gente cujo único valor, fundado na rápida leitura de Maquiavel, é a manutenção do poder. Todo o resto serve apenas para ser manipulado conforme os interesses do momento.

A Igreja não se intrometeu no conflito, mas deu um sinal ao mundo da política, disse, atenção, os professores são mais importantes do que os senhores e que ela, Igreja, tem muita estima pela acção dos docentes. Para bom entendedor meia palavra basta.

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