O silêncio da terra sombria – 20.
Conheço a humildade da terra,
a doença que se abre à maturação dos frutos.
Dominado pela arquitectura do mundo,
entrego-me ao êxtase com o olhar cativo
e corro na luz fria e derramada
a clamar pelos favos que te adoçam
a boca imóvel na soberania da tarde.
Oiço então um brado claro,
uma voz esquiva debruada pela sede,
como se fora uma fonte de penumbra
ou a margem secreta do rio da infâmia.
Sobre o equívoco daqueles dias, cresceram
fogos-fátuos, atearam incêndios, escureceram
de terror o indecifrável vazio que te escorre das mãos.
[Jorge Carreira Maia, O Silêncio da Terra Sombria, 1993]
1 comentário:
Muito boa carreira,a do Carreira Maia. Creio que em 93 ainda seria muito jovem...
A sua "oficina da palavra" tem uma muito boa produção... E de há muito, pelos vistos!
Esperamos que continue...
jlf
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