09/03/08

Marcha de professores, o que me comoveu

Acabei de chegar de Lisboa. Era para ter ficado por lá, o corpo resolveu engripar ou coisa que o valha. Mas mesmo a aspirina e a brufen lá fui à minha «primeira» manifestação a sério. Talvez escreva, mais logo, alguma coisa sobre o assunto. Hoje queria deixar uma nota sobre o que mais me comoveu, a mim que não sou particularmente dado a comoções.

Como desfilei desde o Marquês de Pombal até ao Terreiro do Paço sempre chegado ao lado esquerdo vi muito do público que assistiu ao passar da manifestação. Muitas dessas pessoas seriam professores aposentados, gente idosa, gente que passou uma vida dedicada aos seus alunos. Olhavam-nos, olhavam-me e nos seus olhos havia uma imensa gratidão para connosco, incentivam-nos e havia aqui e ali lágrimas. Era como se na tarde deste sábado 100 mil professores resgatassem a sua dignidade e a de milhares de colegas que já deixaram a escola.

Em todos eles, porém, havia um sinal de espanto. Era como se uma vida inteira dedicada aos outros encontrasse, numa tarde fria de Março, o ajuste de contas com quem, durante décadas, sim, já são décadas, tem, para além de destruir o sistema de ensino com reformas delirantes, tentado destruir a imagem dos professores e diabolizar a sua profissão.

1 comentário:

maria correia disse...

Os dados estão lançados. Eu própria teria ido, embora não leccione,apenas para apoiar, mas uma tradução urgente prende-me em casa, e teria ido, embora nunca vá a manifestações (excepto aquelas que JCm já referiu, do pós 25 de Abril e que mais pareciam as tais procissões a um deus desconhecido--tinham algo de muito puro, essas «manifs»...)porque, como cidadã, estou completamente ao lado desta luta. Mas o meu filho e a namorada, estudantes de Letras, foram, encontraram até professores conhecidos, que cumprimentaram e apoiaram. E estes dois jovens, quando chegaram a casa, referiram precisamente a mesma coisa: a sua comoção perante as pessoas que iam apoiando a manifestação, ao longo das ruas, que batiam palmas, emocionadas. Cem mil pessoas é Portugal em peso nas ruas de Lisboa. Que, depois deste lançar de dados, não se passe o Rubicão é quase impossível. Que, depois disto, nada mude e a ministra insista e persista, é já estupidez. Ultrapassa as raias da razão. Parabéns aos professores pela força e pela vontade e pela solidariedade e também pela elegância com que se manifestaram nas ruas. Creio até que esta manifestação histórica possui um carácter que ultrapassa o descontentamento e a revolta de uma classe. É a revolta de um país inteiro perante a fúria cega do autoritarismo. É reflexo também do mal-estar geral. Força!