21/11/09

O arquivamento



O procurador-geral da República decidiu arquivar as escutas a José Sócrates, considerando não existirem elementos que provem a prática de ilícito criminal. O que Pinto Monteiro não conseguirá, todavia, arquivar é a queda contínua da imagem da Justiça aos olhos do cidadão comum.

A fuga estratégica de informação tornou-se uma prática sistemática, prática essa que os não iniciados nos divinos mistérios da justiça e da política portuguesas não conseguem perceber. Nunca se chega a compreender muito bem se essas fugas são formas extraordinárias de dar força aos processos judiciais, ou se estão inscritas no conflito político interpartidário. Seja uma esperteza judiciária ou um estratagema político, ou as duas coisas ao mesmo tempo, a fuga de informação tira toda a credibilidade à decisão judiciária que seja tomada. Por mais justa que seja a decisão de Pinto Monteiro, a vox populi nunca duvidará de que ele apenas foi fraco perante o poder político. A justiça sai de rastos, por justa que a decisão seja. Quando este tipo de coisas cai na rua, a plebe, instada pelos pregoeiros de serviço e sedenta de sangue, cai sobre a vítima. Se esta for um poderoso e arrogante, ou ex-arrogante, melhor, o circo está armado.

Mas este jogo não é uma ocupação frívola. Pelo contrário, é um jogo bem perigoso. As instituições do poder e as judiciais desgastam-se continuamente, tornando a sociedade portuguesa ingovernável.

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