Não nos deixemos iludir
É preciso não se deixar iludir. Esta vã presunção não deixa, no entanto, de ser verosímil. Não nos devemos deixar iludir por quem? Em primeiro e em último lugar, por nós, por aquilo que constitui a nossa opinião, pelas verdades que transportamos, pela potência do nosso argumentário, pelos preconceitos que apresentamos ao mundo como boas causas. Todas as nossas boas causas são falsas. Os homens passam a vida a alertar para as ilusões e os enganos que os outros disseminam na terra e na cabeça da gente boa. Importante, porém, é que se abandone esse proselitismo negativo, essa pregação invertida, esse sermonário sempre disponível para a conversão dos outros. Não nos deixemos iludir por aquilo que queremos vender a nós próprios. Há que rir de si mesmo, olhar de esguelha e desatar a gargalhar com as nossas pretensões, com a erudição que possuímos, com o bem gosto que ostentamos. E não devemos rir de nós como caminho para um eu mais autêntico. A autenticidade é uma nova forma de falsificação. A autenticidade é a mistificação de psicólogos castrados. Devemos rir de nós mesmos apenas por um motivo: somos absoluta e incuravelmente ridículos, irrisórios, risíveis. Não há escárnio e maldizer suficientes para nos caracterizarmos.
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