12/10/08

Vontade de vomitar

Pulido Valente, na crónica de hoje no Público, fala do desinteresse que parece grassar na opinião publicada e na comunicação social nacionais pela crise financeira mundial. Atribui esse desinteresse à nossa eterna miséria, à incapacidade de percebermos tudo o que tenha mais de três números. É possível que tenha razão. Mas também é possível que estejamos perante uma resposta mais pragmática: que mão poderemos ter na crise que não provocámos? Todos sabemos a resposta: nenhuma. Então, para quê um excesso de preocupação, mesmo que o barco se esteja a afundar? A experiência da nossa miséria, experiência que obsidia Pulido Valente, é antes de mais a experiência da impotência colectiva. Raramente somos os senhores do nosso destino. Tudo o que é essencial se decide onde não estamos e mesmo o que se decide por cá decide-se onde a maioria não se encontra. É fácil a meia dúzia de janotas, que leram umas tretas sobre livre-arbítrio e umas linhas sobre a livre iniciativa, acusar meio mundo de incapacidade de sobreviver sem o apoio ou a âncora do Estado. O que não é fácil a essa meia dúzia é perceber a longa história que nos formatou e que tolheu qualquer espírito de iniciativa e que lhes dá a possibilidade de ganhar dinheiro à custa das idiotices que põem da boca para fora. Quando leio a maior parte dos comentadores tenho vontade de vomitar. É evidente que não incluo aqui Pulido Valente, o único que verdadeiramente vale a pena ler.

1 comentário:

maria correia disse...

Não acho que exista desinteresse pela crise financeira mundial por parte dos portugueses.. Os telejornais não falam de outra coisa, todas as noites. Os jornais tb lhe dedicam vários artigos. Vou à rua e as pessoas comentam. Toda a gente está atenta e preocupada. Que quereria o senhor Vasco Pulido Valente? (com todo o respeito, mas a opinião dele vale o que vale, é uma opinião, embora pertença a um dos «opinion makers» cá da terra.E são isso, apenas, «opinion makers»)Que toda a gente começasse aos gritos? Já passámos por tantas crises...Que poderemos fazer se nem os próprios especialistas da UE sabem bem o que fazer e variam entre o «tudo ao molho e fé em DEus» e o «cada um por si»?...Que países, hoje em dia, se podem gabar de ter o «seu» destino nas mãos? A Islândia foi à falência e era um dos países mais ricos. No fundo, estamos a ter a atitude mais civilizada possível. Serenidade. Entre a hegemonia americana e a bomba atómica do Irão, do Paquistão ou da Índia, quem manda? Que pode fazer um pequeno país como o nosso perante td isto? O mundo mudou, já não estamos no século XV ou XVI em que divídiamos o mundo ao meio com os espanhóis. Agora, o Império pertence a outros.