08/10/08

Furores socráticos

Quem não desejaria ser iniciado em tais mistérios? Quem é que não deseja, ainda peregrino na terra, mas desprezando tudo o que é terreno e desprezando os bens da fortuna, esquecido do corpo, tornar-se comensal dos deuses e dessedentado pelo néctar da eternidade, receber, animal mortal, o dom da imortalidade? Quem não quererá ser inspirado pelo furor socrático, exaltado por Platão no Fedro, arrebatado em célere voo para a Jerusalém Celeste, fugindo rapidamente com um bater de asas daqui, isto é, do mundo, reino do demónio? Arrebatar-nos-ão, ó Padres, arrebatar-nos-ão os furores socráticos, trazendo-nos para fora da mente a tal ponto que nos coloquemos a nós e à nossa mente em Deus. E por eles certamente seremos arrebatados, se primeiro tivermos realizado tudo quanto está em nós: se, de facto, com a moral forem refreados, dentro dos justos limites, os ímpetos das paixões, de tal modo que se harmonizem reciprocamente com estável acordo, se a razão proceder ordenadamente mediante a dialéctica, inebriar-nos-emos, invocados pelas Musas, com a harmonia celeste. Então Baco, senhor das Musas, mostrando-nos, tornados filósofos, nos seus mistérios, isto é, nos sinais visíveis da natureza, os invisíveis segredos de Deus, inebriar-nos-á com a abundância da casa divina na qual, se formos totalmente fiéis como Moisés, a santíssima teologia, aproximando-se, animar-nos-á com um duplo furor. Sublimados, portanto, no seu excelso observatório, referindo à medida do eterno as coisas que são, que serão e que foram, observando nelas a beleza original, seremos, como vates apolíneos, os amadores alados até que num inefável amor, como invadidos por um estro, postos fora de nós e cheios de Deus como Serafins ardentes, já não seremos mais nós próprios, mas Aquele mesmo que nos fez.

--------------------------------------------
Extraordinário tempo deve ter sido o século XV. Arrebatamento, entusiasmo e furor parece não te faltado por lá.

Sem comentários: