10/10/08

Histórias mal contadas

Há histórias mal contadas, há histórias desagradáveis e há histórias que são ao mesmo tempo mal contadas e desagradáveis. Esta é uma delas. Se o veterano da primeira guerra do Iraque estiver a falar verdade, se os EUA tiverem efectivamente usado uma bomba nuclear na I Guerra do Golfo, se se desmentir a versão do Pentágono, o Ocidente terá dado um passo decisivo para a sua completa irrelevância e legitimado de uma vez por todas a proliferação de armas nucleares e o seu uso convencional. Esperemos que haja explicações convincentes.

1 comentário:

Anónimo disse...

Voltamos ao interessante e antiquíssimo tema da guerra.
Temos duas formas de abordar o assunto. Com realismo ou com ingenuidade.
Segundo Carl von Clausewitz, pensador militar prussiano do século XIX,«a Guerra não é mais do que um duelo numa vasta escala. (...) A Guerra é, então, um acto de violência com vista a coagir o nosso adversário a submeter-se à nossa vontade. A violência arma-se com as invenções da Arte e da Ciência para combater a violência. (...) A violência, ou seja, a força física é, portanto, o meio. A necessária submissão do inimigo à nossa vontade é o objectivo final. (...) Nesta altura, os filantropos imaginam, quase de certeza, que existe um método engenhoso de desarmar e vencer um inimigo sem causar um grande derramamento de sangue, e que isto é a predisposição correcta da Arte da Guerra. Por muito plausível que isso possa parecer, é um erro que deve ser extirpado. Em assuntos tão perigosos como a Guerra, os piores erros são os que provêm de um espírito de benevolência. Dado que o uso do poder físico até à sua máxima extensão não exclui, de modo algum, a cooperação da inteligência, daí resulta que todo aquele que usa a força com prodigalidade, sem fazer alusão ao derramamento de sangue envolvido, deve obter uma superioridade se o seu adversário usar menos vigor na sua aplicação. O primeiro dita então a lei para o segundo, e ambos avançam para extremidades onde as limitações são apenas as que são impostas pela quantidade de força neutralizante de cada um dos lados.
É assim que este assunto deve ser encarado, e não vale a pena, chega mesmo a ser contra os próprios interesses de cada um, virar as costas à verdadeira natureza do assunto porque o horror dos seus elementos provoca repugnância. Se as Guerras das pessoas civilizadas são menos cruéis e destrutivas do que as dos selvagens, essa diferença surge da condição social de ambos os Estados e das relações entre si. É desta condição social e das suas relações que se desencadeia a Guerra que é sujeita a condições, controlada e modificada. Mas isto não pertence à Guerra em si; são apenas condições fornecidas; além disso, seria um absurdo introduzir na filosofia da própria Guerra um princípio de moderação». Excerto «Da Natureza da Guerra», Edições Coisas de Ler, 2007.

A proliferação e a convencionalização das armas nucleares é apenas uma questão de tempo. Sempre assim foi, com as armas de broze, depois de ferro, com as armas de fogo, com as tácticas militares, ou com os bombardeamentos aéreos.
Todas as potências emergentes têm a ambição de alcançar uma superioridade militar em relação aos restantes Estados. Essa superioridade militar é conseguida com o acesso à tecnologia de guerra mais eficaz, ou seja, mais destruidora, com vista à mais fácil submissão do inimigo.
As conquistas romanas, a Guerra Santa, as Cruzadas, as batalhas das trincheiras da I Guerra Mundial, os bombardeamentos aéreos de Londres, de Leipzig ou de Dresden («em tapete») na II Guerra Mundial, o avanço das tropas Nazis pelo território soviético, a conquista de Berlim pelo Exército Vermelho, ou o lançamento das bombas de Hiroshima e Nagasaqui, o napalm do Vietnam ou do nosso Ultramar foram violentíssimos e cruéis. Mas traduziram-se na aplicação do princípio da guerra de aplicação da máxima força.
Qualquer Estado que possua armas nucleares não hesitará usá-las se tiver necessidade de o fazer, para se superiorizar em relação ao inimigo. Até agora a sua pouca utilização resultou do equilíbrio de forças (que desaconselhou o seu uso) e da desnecessidade.
O grande desafio é tentar protelar por mais tempo esse equilíbrio e essa desnecessidade.