Porque te defendes, pobre mortal
Porque te defendes, pobre mortal,
do deus que dispara a flecha incendiada?
Ao teu coração há-de consumir,
e fazer cinza do orvalho que se desprende
e corre em ti como um rio de lava
por entre a ravina de tuas pernas.
Porque afastas o deus
da vertigem da tua pele?
Chama-lo na noite,
mas quando chega feito ladrão
tudo em ti hesita e recua
sob a pálida candeia do luar.
Olha as folhas, na árvore amarelecem.
O Outono breve há-de vir
e em teu coração restará
apenas a poalha da tarde:
os meus dedos não te tocarão.
O Inverno está quase a chegar,
mas nunca mais em ti cantará a Primavera
e a redenção dos pássaros que voltam.
Porque te defendes, pobre mortal,
do deus que dispara a flecha incendiada?
2 comentários:
Ausente?
Talvez nem tanto como parece. Muito menos que cause apreensão.
"...fazer cinza do orvalho que se desprende
e corre em ti como um rio de lava
por entre a ravina de tuas pernas"...
Só de poeta. No mais puro e elevado sentido da expressão!
(E então essa da "ravina"... está o máximo)
Bravo.
Grande abraço
jlf
DDT: tenho a impressão de já antes o ter lido... Seu, claro.
Será possível?
jlf
Viva caro amigo. Parece que está tudo bem por esses lados. Obrigado pelo que diz. Relativamente à dúvida: o texto é inédito. É possível que palavras e imagens e associações teham já ocorrido noutros textos. Todos temos os nossos fétiches.
Abraço,
JCM
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