A crise financeira e a escola portuguesa
Os professores portugueses andam, por ordem do governo, todos entretidos a determinar objectivos para serem avaliados. Os princípios da avaliação fundam-se em concepções retiradas da gestão de empresas. Muito desses princípios são análogos àqueles que orientaram a economia ocidental até ao presente buraco em que se encontra. O que se prepara na escola é, apesar de menos visível e espectacular, uma desgraça idêntica à do mundo da finança. Há um princípio comum que toda a gente percebe: no mundo da finança, vendia-se crédito a quem quer que seja, para atingir e ultrapassar os objectivos; na escola portuguesa, vão-se passar alunos sem saber nada, para atingir os ridículos objectivos que o delírio governamental impôs aos professores. Há muito tempo que descobri que a estupidez é uma coisa que se propaga a grande velocidade e tende para a dominação universal, nem as catásrofes a fazem recuar.
1 comentário:
Os objectivos individuais, nos termos em que nos são exigidos (percentagens de sucesso a atingir, como quem define objectivos de vendas, entre outras pérolas) são a maior aberração de todas as infindáveis aberrações que tomaram conta da escola (isso e a injustificável divisão da carreira).
Ainda não entreguei os meus objectivos individuais, mas estou tentada a indicar como meta 100% de sucesso em todas as turmas, porque o sucesso de todos os meus alunos é, de facto, a minha maior ambição profissional e é para isso que sempre trabalhei. Infelizmente, nunca atingi plenamente esse objectivo, mas também nunca desisti de um aluno (o que, pelos vistos, vale muito pouco).
Um professor não entra numa sala de aula a pensar que A ou B pode ter negativa se isso não prejudicar o pleno cumprimento dos seus objectivos, pois todo o seu trabalho vai no sentido de todos os alunos alcançarem positiva e, de preferência, boas notas. Porém, o sucesso desejado não depende apenas do professor. Depende, e muito, do contributo dos alunos. Como posso, pois, chegar a um número e declarar que me proponho atingir esta ou aquela percentagem de sucesso? E, pior ainda, em termos comparativos com o ano anterior (outro ano, outra turma, outras matérias, outras exigências, outro contexto...)!
Metas de sucesso, percentagens... Não sei como isso se faz (em termos sérios, se é que isso é possível) e ainda ninguém conseguiu dar-me uma resposta, nem mesmo os meus colegas mais sábios e mais ou menos encostados à sinistra política educativa.
É certo que tenho outra alternativa:deixar de questionar e entrar no jogo do ministério, atirando uns números para o ar. Depois, só me restam duas possibilidades: ou arranjo os resultados ou levo cartão vermelho. Ah! também há a remota hipótese de ter imensa pontaria...
Enfim, acho que se perdeu completamente a lucidez... ou a vergonha!
Desculpe o longo desabafo... Esta profissão é de loucos.
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