16/10/08

Se o crepúsculo chegar

Wassily Kandinsky – Cidade Antiga II - 1902

Se o crepúsculo chegar
com a seda da noite a envolver-lhe as mãos,
abrirei para ti os meus braços
e desenharei uma estrada de terra batida
e jardins de relva azul
e flores brancas como estrelas.

Não haverá o roncar das máquinas
que pelos rios de alcatrão cavalgam…
Apenas os teus passos virão
no encalço dos meus
e se a tua voz falar, ouvi-la-ei
como oiço agora repicar
ao longe o bronze dos sinos.

Tudo será então misterioso
e as palavras que teremos
na língua que será a nossa
voarão sobre os telhados e
deixarão cair sílabas pelos quintais
ou pequenas letras na
ramagem verde das árvores.

Tu, pelo inverno, sairás de casa
para as colher e com elas
atearás a lareira onde um
fogo de palavras vermelhas
incendiará o amor
nos cansados corações,
animais deserdados
pelas primeiras névoas outonais.

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