15/10/08

O retorno do mouro?

Na Alemanha, as vendas do Capital, de Karl Marx, dispararam, em relação aos anos anteriores, e a expectativa é que continuem a crescer. Não se pense, contudo, que é o marxismo que está de volta. Este movimento de retorno a Marx inscreve-se na esfera dos eruditos. Não é o Marx que guia a acção e que conduzirá os homens ao paraíso, mas o Marx que se tornou um autor clássico. E como todos os grandes autores clássicos, e Marx é um grande autor clássico, é um mestre do pensamento, alguém que ajuda a pensar melhor e a melhor interpretar o mundo. É um Marx lido ao arrepio da sua célebre 11.ª tese ad Feuerbach: «Os filósofos limitaram-se até agora a interpretar o mundo de diferentes modos; do que se trata é de o transformar». Afinal, parece que é mesmo preciso continuar a interpretar o mundo. O velho Hegel sabia muito mais do que seu distante e belicoso discípulo.

4 comentários:

maria correia disse...

Não creio que esse movimento de retorno a Marx se inscreva apenas na esfera dos eruditos, e muito menos na Alemanha. Os alemães têm, quase todos, uma forte consciência política. Há um grande interesse por parte das camadas mais jovens em compreender o mundo e em agir no mundo. Possuem movimentos fortíssimos, tanto a nível da direita como da esquerda. O Partido dos Verdes é poderoso,os estudantes universitários manifestam-se por causas ecológicas, há movimentos de solidariedade, de protesto contra os Gs.. acho que são oito agora, enfim. Não me surpreende que, com toda acrise existente, anível global, não haja muito jovem alemão a ir às livrarias e a comprar obras de Marx. No último livro que traduzi, de Stanley Aronowitz, também, nos Estados Unidos, a procura e leitura das obras de Marx, de novo, é notória, segundo o autor. Será um retorno a um clássico do pensamento, sim, mas, também, um sinal dos tempos. Em Portugal, não é aprimeira nem a segunda vez que oiço dizer «vou voltar a ler o Marx» ...Eu própria já tive de o fazer, para poder traduzir um livro, escrito nos Estados Unidos, em 2007, e que lhe faz referências constantes. Segundo o autor, há necessidade de «mudar o mundo», de agir sobre o modo como se encontra moldado.E volta, sempre a Marx, extirpando-o da aura do marxismo-leninismo dos sovietes,que acabaou por o manchar.

almariada disse...

Porque é que lhe chama mouro?! :)

Anónimo disse...

Era assim que lhe chamava Engels, salvo erro, devido à sua fisionomia.

almariada disse...

Obrigada! :)
Não sabia! :)