30/10/08
23/10/08
Thomas Merton - A escuridão me basta
Para estes tempos de interregno do blogue: a escuridão me basta.
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17/10/08
Gosto assim destas paisagens
onde a presença dos homens
é uma ténue e delida sombra no horizonte:
casas e telhados
um pomar de macieiras são o rosto
daquele trabalho que traça
a fronteira onde os deuses já não vão.
Se de súbito uma ave cantar
recolhe a face e no silêncio da hora
deixa o deus murmurar.
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Gershwin - Rhapsody in Blue
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Jornal Torrejano, 17 de Outubro de 2008
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16/10/08
Se o crepúsculo chegar
com a seda da noite a envolver-lhe as mãos,
abrirei para ti os meus braços
e desenharei uma estrada de terra batida
e jardins de relva azul
e flores brancas como estrelas.
Não haverá o roncar das máquinas
que pelos rios de alcatrão cavalgam…
Apenas os teus passos virão
no encalço dos meus
e se a tua voz falar, ouvi-la-ei
como oiço agora repicar
ao longe o bronze dos sinos.
Tudo será então misterioso
e as palavras que teremos
na língua que será a nossa
voarão sobre os telhados e
deixarão cair sílabas pelos quintais
ou pequenas letras na
ramagem verde das árvores.
Tu, pelo inverno, sairás de casa
para as colher e com elas
atearás a lareira onde um
fogo de palavras vermelhas
incendiará o amor
nos cansados corações,
animais deserdados
pelas primeiras névoas outonais.
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Albinoni oboe concerto D minor Movement 1
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Limpar as mãos à parede
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Interesses de Estado
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Ressuscitar fantasmas
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15/10/08
Assim demoramos
nesta tarde azul
sobre a palha onde poisam
- leves pássaros de linho -
os sonhos verdes
onde dormimos.
Sonhamos os flocos de neve,
eles virão depositar a água fria
sobre o fogo de teu corpo,
para que minha mão
te incendeie,
no segredo da noite,
ao chegar.
Sonhamos campos de miosótis
e bandos de aves
brancas como margaridas.
Colho ali um ramo
e atravesso no céu azul
o largo oceano
para aos teus pés o deixar.
Sonhamo-nos deitados
na tarde de estio
e o teu sonho cresce
nas asas do meu:
águia branca sobre rocha negra
que pelas fragas sombrias
faz raiar no horizonte
o fulgor do meio-dia.
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Leonard Cohen: The Stranger Song
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Portugal 0 - Albânia 0
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O retorno do mouro?
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Manifestações de professores
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14/10/08
Pudera ver assim o céu azul
e em cada partícula desse anil
saber o verde e o amarelo e o vermelho,
as mil cores que sobre a terra
a luz faz descer,
logo pintaria de branco as negras barcaças
e no lugar do carvão
levaria raparigas de saias largas
e cabelos ao vento.
Se as águas fossem bonançosas,
cantaríamos pela tarde fora
e eu beberia o vinho novo
que naqueles lábios o dia fermentou.
Se, sorrateira, a tempestade viesse,
armaria o velho cavalete
e onde o céu visse negro
o faria azul e no anil dos olhos
presos em mim eu provaria
o verde e o amarelo e o vermelho
que se escondem na noite sem fim.
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Jacques Brel - Amsterdam
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Os que se vão embora
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A euforia das bolsas
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Ser capitalista
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13/10/08
Não és Eurídice, nem por ti
Orfeu descerá aos infernos
ou fará tocar sobre a erva dos campos
a lira amena.
Cavalgas apenas
pela a pesada Terra
e marcas com os teus olhos de sombra
aqueles a quem a escuridão,
sonâmbulos,
já atormenta.
Não houve em teus lábios
mel, nem alguém
aí provou as bagas silvestres,
nem uma mão te tocou
o frágil seio, de onde
fugiu o coração.
Aos dedos cobres
para esconder o sangue
que em ti espreita
quando pela noite vais
sobre o velho alazão.
Anda, ó rainha da noite,
ergue uma bandeira sobre o altar
e deixa escrito o teu nome
para quem oiça
a sombra interminável
desse teu cavalgar.
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Salvar o quê e a quem?
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O peso da História
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The Last Laugh - George Parr [a crise do subprime]
Eis uma notável explicação da crise. Melhor que as mil páginas de especialistas que por aí se escrevem. Ah, ainda tem direito a rir, para além da compreensão efectiva da coisa. Veja onde conduz a gestão por objectivos (dedicada, esta parte, aos presidentes dos conselhos executivos das escolas portuguesas, tão deslumbrados com a parolice).
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12/10/08
Onde está agora o triunfante corpo
e a voz soberana que aos mortais tocava
e como uma faca de seda os feria
naquele lugar onde nasce toda a imperfeição?
O rosto ainda brilha, mas no curvado peso
já o abutre se anuncia, mesmo se a porta se fechou
e dentro de casa ainda arda o fogo,
talvez uma vela a cintilar de esperança.
É tudo tão preciso, quase geométrico,
as paredes, os móveis, a cadeira
que te suporta e o teu olhar para o infinito
como se quisesses ver o que te chama.
A mão não acena nem a boca canta
nem o teu nome cresce na alegria
que era ter vida e filhos e um campo
de lírios acesos durante a caminhada.
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Um passo em frente
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Meredith Monk -Churchyard Entertainment
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Fair-play democrático
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Vontade de vomitar
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11/10/08
Se curvares teus dedos
Joanna Boyce - Bird of God - 1861
Se curvares teus dedos
e a sebe e a laranjeira
e a terra seca dissolveres
e ainda o pó da sebe
e o da laranjeira
e o da terra seca
e aquele de teus dedos
e o da curva de teus dedos
e o da memória de tudo isso se dissolver
a que horizontes se abrirão,
entre o rumor de asas,
os encadeados olhos?
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Keith Jarrett, Gary Peacock, Jack De Johnette , PRISM, 1985
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Nacionalizemos, então
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10/10/08
Já toda a tarde tinha caído
para fora do círculo luminoso
e o dia cedera o corpo ansioso
ao império ferido pela noite.
Apenas os teus olhos fitavam
no limiar onde a loucura se acende
o frio desvão e nele, inquieto, havia
um poço fundo bordado a erva doce
e a terra fria, onde escondias
os restos amargos da infância.
Se eram rosas o que vestias,
os teus cabelos eram fogo,
mas em ti apenas ardia
um desejo de morte
que anuncia, em dobrado corpo,
a face oculta de um terror novo.
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Dias negros
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Jornal Torrejano, 10 de Outubro de 2008
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Histórias mal contadas
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09/10/08
Assustam-se as belas e pobres escravas
Assustam-se as belas e pobres escravas
envoltas no corpo, a natureza lho deu,
ao verem a terrível luz de Ulisses,
náufrago entre náufragos,
a emudecer a sombra que do mar vinha.
Entre tanta mulher de corpo resfriado pela água,
aquecido pelo sol do mediterrâneo,
apenas uma enfrenta o desconhecido
e a sua mão lhe entrega para o levar
à cidade, para que o cuidem e lhe tragam
o conforto que os dias passados roubaram.
Nausícaa, filha real, reconheceu no estrangeiro
não o escravo a que tudo teme,
mas um igual, apenas maltratado pelas águas
e pelo destino adverso que tudo pode.
No segredo do seu coração, já o filho de Ulisses
encontrara o conforto para a sua solidão.
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Caetano Veloso and Lila Downs - Burn It Blue
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Bravo, Nico
Na resposta, o deputado do PS Bravo Nico não se referiu à questão dos computadores Magalhães.
Quanto ao caso de Barcelos, o deputado do PS a deu a entender estar de acordo com a decisão do conselho pedagógico, argumentando que "é sempre muito mais exigente e dá sempre muito mais trabalho às escolas e aos professores integrarem os alunos com percursos de aprendizagem difíceis".
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08/10/08
O que admiras nesse espelho
O que admiras nesse espelho
e escondes na cercadura dos laços,
será fingimento, tortura ou
um prémio a cair-me nos braços?
O que vês quando olhas
para além do vidro dessa imagem,
será devaneio, mentira ou
o meu olhar preso na outra margem?
O que dirás se eu desfizer os laços
e colher-te rápido naquela margem
onde, por entre suspiros e abraços,
serás de ti para mim a tua imagem?
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Cuarteto Cedrón - La cerveza del pescador Schiltigheim
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Furores socráticos
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Extraordinário tempo deve ter sido o século XV. Arrebatamento, entusiasmo e furor parece não te faltado por lá.
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O dom da fé
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Nova maioria absoluta?
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07/10/08
Doce Afrodite eis as rosas
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Diana Krall - Cry me a river
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A crise financeira e a escola portuguesa
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Rédea curta no mulherio
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06/10/08
Porque te defendes, pobre mortal
Porque te defendes, pobre mortal,
do deus que dispara a flecha incendiada?
Ao teu coração há-de consumir,
e fazer cinza do orvalho que se desprende
e corre em ti como um rio de lava
por entre a ravina de tuas pernas.
Porque afastas o deus
da vertigem da tua pele?
Chama-lo na noite,
mas quando chega feito ladrão
tudo em ti hesita e recua
sob a pálida candeia do luar.
Olha as folhas, na árvore amarelecem.
O Outono breve há-de vir
e em teu coração restará
apenas a poalha da tarde:
os meus dedos não te tocarão.
O Inverno está quase a chegar,
mas nunca mais em ti cantará a Primavera
e a redenção dos pássaros que voltam.
Porque te defendes, pobre mortal,
do deus que dispara a flecha incendiada?
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Jan Garbarek - Molde canticle (1991)
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Afinal, a culpa é da moral
Extraordinária lição. Imagine o leitor que perante uma onda avassaladora de crimes, onde as instituições de segurança se impedissem de interferir e regular a segurança dos cidadãos, viesse alguém dizer que o principal problema estava ao nível, não da acção política, mas da auto-regulação que cada indivíduo deve possuir perante a tentação do crime. Isto é para levar a sério? Mas como é possível não responsabilizar todos aqueles que induziram, com interesses e ganhos evidentes, pessoas que não podiam cumprir os seus compromissos a comprar casa? Parece que os culpados de uma derrota militar são os cozinheiros. Os generais e a estrutura responsável é que não pode ser responsabilizada e muito menos a ideologia subjacente, ou a estratégia seguida. Pensar que o problema é moral (auto-regulação dos indivíduos) é querer iludir-se e iludir os outros. O mercado deixado a si-mesmo tal como aconteceu gerou a situação em que vivemos. Agora diabolizar os milhões de pobres que se deixaram tentar pelos cantos de sereia dos gestores inovadores parece ser, assim, um acto de profunda inteligência e compreensão da natureza dos homens e uma óptima solução para o que se está a passar. O melhor ser prendê-los a todos, aos que ficaram sem casa, por atentado à moralidade. Ao mesmo tempo deve-se gratificar infinitamente a gestão política ocidental por se ter demitido da fiscalização e regulação da economia e promover todas as administrações das instituições falidas.
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Notícias do paraíso
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05/10/08
Tudo se ilumina no fulgor da água
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Sob o signo da vulnerabilidade
O equívoco de todas estas palavras reside na ilusão optimista que lhes está subjacente. Parece que é a crise ou as incertezas que apelam à verdade e nos tornam vulneráveis. Mas a realidade é completamente diferente. O homem é um ser por essência vulnerável. A vulnerabilidade está inscrita no seu ser e no ser das próprias comunidades e instituições em que o homem vive, e esta é a sua verdade. Não são os tempos difíceis ou de incerteza que nos tornam vulneráveis. Os tempos de crise e de incerteza apenas mostram a realidade que, noutras alturas, escondemos. Mais, nas alturas em que tudo parece correr bem, nem vemos a crise, a incerteza e o desespero que atingem os outros. Isto para não falar de que, muitas vezes, os tempos de certeza em que uma parte de nós vive se constroem na incerteza e desespero de terceiros. A vulnerabilidade do humano está sempre patente, o nosso olhar, porém, está demasiado inclinado para a querer ver.
A única solução, se é que há uma solução, é aprendermos a viver sob o signo da vulnerabilidade. Aceitar a condição que é a nossa, da nossa comunidade e das nossas instituições, aprender a lidar com essa vulnerabilidade e perceber que, para além do mundo da concorrência – mundo legítimo, aliás –, existe o mundo onde os homens cuidam da vulnerabilidade uns dos outros. Se quisermos pensar a essência do político, deveremos pensar não na concorrência que anima os mercados, mas na vulnerabilidade que leva os homens a desejarem cooperar uns com os outros. A vulnerabilidade própria e a necessidade do cuidado são os fundamentos da comunidade política. São eles inclusive que dinamizam a construção das instituições e a organização do Estado enquanto lugar onde impera a lei e o monopólio da violência legítima. A questão política então é: como poderemos mobilizar os cidadãos que vivem em comunidade para cooperar no fortalecimento de instituições que existem sob o modo de ser da vulnerabilidade? A verdade, todavia, é que o actual modelo de relações sociais está longe de ser, para largas franjas da população, mobilizador. Isso deveria preocupar aqueles a quem se entregou a direcção do Estado e a gestão dos negócios públicos. Será que preocupa?
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04/10/08
O tempo é uma rosa de aço
e estrangula-te a face ao cair das pétalas.
Se a beleza ainda reflecte o meio-dia,
já a noite descai do olhar
e uma penumbra cresce
no vazio, ele te espera.
Um rosto. O que é um rosto
banhado pelo calor do luar?
Uma planície de cicatrizes
onde os vendavais deixaram
pela tarde sulcos; aí
correm rios de lágrimas.
A tudo isso o tempo o traz,
no segredo que envolve cada pétala
da rosa que nasce na hora
em que o negro ferro que passa
se transforma na espada vibrante
onde canta sereno o aço.
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Léo Ferré - Avec le temps
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A minha desrazão II
Houve um acontecimento decisivo que me levou, já há muitos anos, a dar atenção a alguns problemas inusitados e que pouco interessavam o comum dos mortais. Esse acontecimento foi a revolução iraniana de Khomeiny, nos anos 70, e a instauração de uma teocracia. Na altura, fiquei de boca aberta. E tentei perceber algum do pensamento que estava por trás do episódio. Aquilo que fui descobrindo, ao longo destes anos, está longe de me tranquilizar. A intranquilidade cresce à medida que o poder militar e económico do Ocidente entra em declínio (no outro dia Pulido Valente pediu desculpa a Mário Soares por o não ter levado a sério quando este começou a falar no declínio dos EUA). A intranquilidade intensifica-se quando muitas das políticas ocidentais têm contribuído para erosão do seu poder e atinge o paroxismo perante a descrença da opinião pública sobre a possibilidade de agravamento drástico da situação. Há muitos anos que percebi que o estado de guerra é a natureza das relações internacionais (obrigado Zé pelo Levinas). A paz - e toda a paz é uma paz particular (a paz ocidental ou a paz oriental ou… ou…), isto é, a paz sob condição de uma potência dominante - só se assegura pelo medo. Essa foi uma das lições, embora sem novidade, da Guerra-Fria. Eu creio, talvez por ser ocidental, que a paz ocidental é mais justa e mais pacífica e mais respeitadora das liberdades do que qualquer outra. Não faltará quem discorde de mim.
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03/10/08
A súbita tristeza que se abate
apenas o seio a disfarça.
Se o corpo nu se abre ao olhar,
não é a leveza que o ordena.
Toalha na mão, a roupa caída,
duas sílabas esventradas pela garganta
e a doce amabilidade
é agora um poço misterioso
ou uma rocha firme sujeita
ao tempo e à noite,
ao império da gravidade.
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Jornal Torrejano, 3 de Outubro de 2002
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Reconheçamos…
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Vasco Pulido Valente - O começo do fim
Obama, que durante a campanha "moderou" as suas posições, quer "sair" do Iraque daqui a um ano e meio. Tirando o erro inconcebível de marcar uma data, se no futuro previsível a América sair do Iraque, deixa atrás de si - no Iraque e no Médio Oriente - uma desordem perigosíssima e sem conserto. McCain julga que o surge do general Petraeus está a ganhar a guerra. Não está; e entretanto a guerra custa 10 biliões de dólares por semana e já custou até hoje perto de um trilião de dólares. Pior ainda: o fracasso da intervenção usou e desgastou o exército americano muito para além do tolerável e o recrutamento começa a ser difícil. Para recuperar, a América precisa de anos de paz (como precisou depois do Vietname). Infelizmente, não haverá paz tão cedo.
Mesmo que Obama acabe com a aventura do Iraque (uma pura fantasia eleitoral), é para transferir o grosso das tropas para o Afeganistão, que ele considera o objectivo principal. McCain também vê a maior necessidade de "reforçar" o Afeganistão. Nem um, nem outro devem perceber o esforço económico e humano que o exercício implica ou a irracionalidade de transformar, a tiro, um país tribal num Estado moderno. Nada lhes parece insensato ou extremo: impor à Rússia uma fronteira da NATO do Báltico ao mar Negro; "defender" a Geórgia; impedir (por que meios?) que o Irão venha a ter qualquer espécie de armas nucleares; fazer com que a Coreia do Norte inutilize as que tem; e, evidentemente, "reorganizar" a Venezuela e a Bolívia. A América pensa (e continua a agir) como uma "hiperpotência". É uma ilusão. A tecnologia militar não chega. Sem peso político, sem uma clara hegemonia económica e sem um exército praticamente inesgotável (e dinheiro para o pagar) existem limites que é mortal passar. E a América "sobreestendida" e dependente de 2008 passa, dia a dia, esses limites. [Público, 3 de Outubro de 2008]
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02/10/08
Não te sentaste em Trouville tão velada
Não te sentaste em Trouville tão velada,
mas comigo passeaste pela imprecisa areia,
e a cada momento esperámos que
Claude e Camille chegassem na elegância
daquelas dias, a morte os esquecera.
Havia um céu de chumbo e bandeiras ao vento,
e grupos de crianças corriam pela praia,
mas o tempo roubara os parcos veleiros
e nada cavalgava então as ondas,
talvez as nuvens enlouquecidas de Agosto
ou gaivotas desterradas ao frio do norte.
Foi aí que sorrimos um ao outro
e dissemos sim, também aqui amámos
e bebemos vinho e caminhámos para o mar.
Habitava-nos uma serpente de fogo
e éramos crianças tardias a descobrir o amor
nas areias onde Claude assim amou Camille.
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Maria Callas - Habanera (1962)
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Benfica 2 - Nápoles 0
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