03/03/08

CONFAP e a sociedade civil

Para que serve a sociedade civil em Portugal? A resposta será sempre embaraçosa. Tomemos o exemplo da CONFAP (confederação de associação de pais) dirigida pelo sr. Albino Almeida. À partida dir-se-ia um bom exemplo de iniciativa da sociedade civil. Mas se olharmos para o seu orçamento descobrimos como tudo está inquinado. No ano de 2006, recebeu do Ministério da Educação mais de 150 mil euros e das quotizações dos seus associados, pasme-se, 1302 euros (cf. aqui). Não admira que apareça ao lado da ministra no conflito que opõe governo/professores. A CONFAP é apenas mais um exemplo, ainda por cima lamentável, da fragilidade e da artificialidade da “sociedade civil” portuguesa.

3 comentários:

maria correia disse...

Reparei na atitude do senhor Albino, da CONFAP, colocando-se ao lado da ministra, e interroguei-me...mas como é possível? Felizmente que houve outras associações de pais que se colocaram ao lado da FENPROF e desta luta. Agora entendo, claro, o dinheiro conta..Obrigada pelo esclarecimento, JCM. EStas coisas têm de ser ditas e muito bem explicadas!

Jorge Carreira Maia disse...

Só um reparo. Apesar do papel dos sindicatos, entre eles a FENPROF, o que há de novo neste conflito é uma reacção muito generalizada dos professores contra um determinado estado de coisas. Muitos de nós não somos sindicalizados. No ensino secundário, os sindicatos têm pouco prestígio, pois também defenderam coisas demasiado facilitistas na carreira. O que há é uma reacção geral do professorado contra a irracionalidade daquilo que é proposto. Não sei quem vai ganhar. Mas se o ministério levar avante a sua posição sei quem perde. Não são só os professores, são efectivamente os alunos presentes e futuros. Estas reformas já estão a introduzir um ainda maior abaixamento do nível de ensino, o que vai afastar da escola pública os melhores alunos, desde que os pais tenham dinheiro.

Podemos dizer que há uma reacção corporativa, mas não por aquilo de que acusam os professores. Estes intuíram o que está oculto no programa do governo: a preparação da destruição da escola pública. Primeiro o edifício é desmembrado (escolas nas autarquias), depois será a vez de abrir a porta à iniciativa privada (e que iniciativa). Esse trabalho não será feito já. Deverá ficar reservado para um governo do PSD (trabalham em alternância no mesmo programa, complementam-se). A escola pública, dentro de anos, ficará mesmo para as margens sociais.

Não se pense que sou politicamente radical. Não, sou bastante moderado e, em alguns aspectos, conservador. Mas sinto a destruição de um enorme património (a escola pública) construído pelos portugueses.

maria correia disse...

Obrigada pelo reparo, JCM. Falei na FENPROF pois foi esta que veiculou a mensagem de que havia associações de pais a apoiar a luta dos profesores. Reconheço perfeitamente a razão de tudo o que diz no seu reparo e concordo. O que acho importante, acima de tudo e de quaisquer vínculos a sindicatos ou a partidos políticos, é precisamente a atitude dos professores em geral perante o estado da questão. Independententemente de pertencerem a esta ou àquela cor política ou sindical. O que me move essencialmente é a defesa da escola pública em Portugal. E, obviamente, o respeito por quem transmite o conhecimento.