A extinção de licenciaturas
Segundo o Jornal de Notícias existem 185 licenciaturas universitárias com menos de 20 alunos, 124 das quais no ensino público. Parece que o remédio é o fecho dos cursos e o despedimento de docentes. Muito bem. Não há procura, acabe-se com a oferta. É a lei do mercado. Mas o problema é muito mais complexo. Há áreas que, segundo este critério, podem ser pura e simplesmente varridas do país. Refiro-me aos estudos literários, por exemplo. É impensável um país, com 900 anos de existência e uma literatura sólida e consolidada, não ter cursos de literatura.
O problema nasceu da deriva anárquica que pautou o ensino em Portugal durante dezenas de anos. Permitiu-se abrir cursos segundo a vontade e os interesses particulares dos docentes universitários, com o álibi da autonomia universitária. O caso da Filosofia é interessante. Quando fiz o curso, no início da década de oitenta do século passado, funcionavam quatro cursos de Filosofia, nas universidades públicas (Lisboa, na Clássica e na Nova, Coimbra e Porto). O que terá passado pela cabeça dos decisores políticos ao permitirem o surgimento de mais três cursos na universidade pública (Évora, Beira Interior e Braga), quando quatro já eram demais? O que se passou no caso da Filosofia é extensível por certo a outras áreas.
Qual o resultado deste aventureirismo? O mercado de trabalho, nomeadamente o ensino, ficou cheio de gente que, não tendo outras alternativas, encontrou nos cursos sem matemática uma saída. Não admira que se encontre muitos professores que desprezam o saber em que foram formados, que nunca mais leram um livro. Isto não é apenas prejudicial para os alunos dessa gente. Tem um outro inconveniente: as pessoas verdadeiramente vocacionadas para essas áreas não as podem escolher, a não ser que queiram ir parar a uma caixa de supermercado ou um call center. Uma política irresponsável fomentou a disseminação de gente medíocre e tapou o lugar de gente vocacionada e talentosa. Agora extinguem-se licenciaturas com a mesma irresponsabilidade com que se abriram e facultaram vagas. Responsabilidade de quem? De quem toma decisões.
O problema nasceu da deriva anárquica que pautou o ensino em Portugal durante dezenas de anos. Permitiu-se abrir cursos segundo a vontade e os interesses particulares dos docentes universitários, com o álibi da autonomia universitária. O caso da Filosofia é interessante. Quando fiz o curso, no início da década de oitenta do século passado, funcionavam quatro cursos de Filosofia, nas universidades públicas (Lisboa, na Clássica e na Nova, Coimbra e Porto). O que terá passado pela cabeça dos decisores políticos ao permitirem o surgimento de mais três cursos na universidade pública (Évora, Beira Interior e Braga), quando quatro já eram demais? O que se passou no caso da Filosofia é extensível por certo a outras áreas.
Qual o resultado deste aventureirismo? O mercado de trabalho, nomeadamente o ensino, ficou cheio de gente que, não tendo outras alternativas, encontrou nos cursos sem matemática uma saída. Não admira que se encontre muitos professores que desprezam o saber em que foram formados, que nunca mais leram um livro. Isto não é apenas prejudicial para os alunos dessa gente. Tem um outro inconveniente: as pessoas verdadeiramente vocacionadas para essas áreas não as podem escolher, a não ser que queiram ir parar a uma caixa de supermercado ou um call center. Uma política irresponsável fomentou a disseminação de gente medíocre e tapou o lugar de gente vocacionada e talentosa. Agora extinguem-se licenciaturas com a mesma irresponsabilidade com que se abriram e facultaram vagas. Responsabilidade de quem? De quem toma decisões.
1 comentário:
É isso, exacatamente o que se passou...de há vinte anos para cá, fomenta-se a mediocridade e expulsa-se do mercado de trabalho, do país e até, da vida, o talento, o génio, a curiosidade pura pelo saber...mais uma razão para corar de vergonha, vergonha do meu país, em que nem sequer o vento já leva trovas a lado algum.
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