25/02/08

O silêncio da terra sombria – 3. Ave de Rapina

Ramos sufocados, as letras ígneas
suspensas pela evidência da luz, um som
maléfico a bramar no canto escuro da noite,
a acender o bolor na vagarosa leitura do livro.

No alto da cabeça, havia a voz de um deus,
uma árvore de rosas e linho entreaberta
na substância ondulada do caminho.
Sobre a luz da vingança caía a chuva

cinzenta, parda de granizo e uma ave de rapina
planava inquieta, suspensa da sua
plumagem, esperando o ateado fogo,

esperando o suspirado milho, suave e
infame, adormecido e quente sobre
a raiz oca e límpida da terra.


[Jorge Carreira Maia, O Silêncio da Terra Sombria, 1993]

1 comentário:

maria correia disse...

Fabuloso, sombrio, inquietante...gosto muito. Lembra Baudelaire, vagamente.