18/02/08

Inundações e miséria

Bastou umas chuvadas mais severas e toda a nossa miséria veio ao de cima. Nem a tragédia da morte nos foi poupada. Não sou dos que acreditam que tudo pode estar sob controlo humano, não pode. Mas há uma atitude geral de desprezo do bem público que nos envergonha. Mais vergonhoso, porém, é o triste pingue-pongue das responsabilidades. Acabei de ver o ministro do ambiente e alguns autarcas a dar um infame espectáculo: a responsabilidade é sempre dos outros. Isto tem um nome: miséria de espírito. Tem sido assim desde há trinta anos, em todas as áreas da governação. Mal sopra uma rajada de vento e toda a indigência se torna clara.

1 comentário:

maria correia disse...

Inundações, miséria...a par das fotos ilustrativas enviadas às televisões e da desolação e morte e danos físicos e morais e casas perdidas e pessoas sem nada por apenas mais uns milímetros de chuva (por muitos que sejam) e do «agora, que vai ser de nós, que perdemos tudo?», um documentário sobre a vida da classe média (baixa, mais que baixa, mínima, classe abaixo daquilo que se pensava ser classe média) e do seu quase desaparecimento...aquela que os sócrates deste país não sabem que existe, que vive explorada por patrões, estado, imobiliárias, custo de vida, ordenados abaixo de qualquer nível de sensatez, explorados também por uma mentalidade que os empurra a «comprar casa» e a ficar empenhados por uma vida inteira, a comprar o carro um pouco mais carote com recurso ao crédito, pois claro, que sabe bem, esse tal crédito, que toda a gente gosta de ter um carrito melhor, e que até faz falta, levar os filhos à escola ou aos avós porque os infantários são caros, os estatais não têm vagas, pessoas que vivem uma sub-vida, pressionados pela conta da luz, da electricidade, do telefone, da casa e do carro e, no fim, não sobra dinheiro para comer...e dizem: «é o país que temos», separando bem o TER do SER, embora, no fundo, se possa dizer, «é o país que somos», sendo, sem TER...