O fim da política e o governo mundial
Subjacentes aos nossos preconceitos actuais contra a política encontram-se a esperança e o medo: o medo de que a humanidade possa destruir-se a si própria através da política e dos meios de força hoje ao seu dispor, e, em ligação com este medo, a esperança de que a humanidade caia em si e varra do mundo, não a espécie humana, mas a política. Poderia fazê-lo através de um governo mundial que transforme o Estado num aparelho administrativo, resolva burocraticamente os conflitos políticos e substitua os exércitos por forças de polícia. Se definirmos a politica no seu sentido habitual, como uma relação entre os governantes e os governados, esta esperança é evidentemente pura utopia. Se adoptássemos semelhante perspectiva, acabaríamos não na abolição da política, mas num despotismo de proporções maciças no qual o abismo separando os governantes dos governados seria tão gigantesco que qualquer espécie de revolta deixaria de ser possível, para já não falarmos de qualquer forma de controle dos governantes pelos governados. [Hannah Arendt (2007), A Promessa da Política, Lisboa: Relógio d’Água, pp. 86]
--------
Este texto data de 1951, mas continua a manter plenamente a sua actualidade. Mais do que isso, ele desmonta um dos perigos que, sem nos apercebermos, começa a instalar-se no Ocidente. O desígnio político de uma parte substancial do Islão é o do estabelecimento de um califado universal, a ideia de um governo mundial regido pela ‘sharia’, a lei corânica, a qual aboliria o direito positivo das nações e submeteria todos os povos e todos os indivíduos à «lei divina». É fácil perceber que essa lei divina seria aplicada não por Deus mas pelos homens. Também é fácil perceber que essa situação configuraria aquilo que Hannah Arendt diz do governo mundial: um despotismo ilimitado e uma impossibilidade absoluta dos governados exercerem qualquer controlo sobre os governantes.
--------
Este texto data de 1951, mas continua a manter plenamente a sua actualidade. Mais do que isso, ele desmonta um dos perigos que, sem nos apercebermos, começa a instalar-se no Ocidente. O desígnio político de uma parte substancial do Islão é o do estabelecimento de um califado universal, a ideia de um governo mundial regido pela ‘sharia’, a lei corânica, a qual aboliria o direito positivo das nações e submeteria todos os povos e todos os indivíduos à «lei divina». É fácil perceber que essa lei divina seria aplicada não por Deus mas pelos homens. Também é fácil perceber que essa situação configuraria aquilo que Hannah Arendt diz do governo mundial: um despotismo ilimitado e uma impossibilidade absoluta dos governados exercerem qualquer controlo sobre os governantes.
1 comentário:
Esses projectos de despotismo megalómano existiram desde sempre...ainda há pouco vivemos a Segunda Guerra Mundial...Hitler foi derrotado.Bush viu-se um pouco como imperador totalitário...a catástrofe abateu-se sobre ele, sobre os Republicanos, até sobre os defensores dos Estados Unidos como regentes da ordem mundial...Esses projectos totalitaristas estão bem patentes na melhor ficção: Orwell, a saga da Guerra das EStrelas (o Imperador do Mal que sonha dominar galáxias)...Não vencem.Existe, no fundo do coração do Homem, algum bom senso...A caminhada para as democracias foi longa, ainda mal estamos a sair dela, há muitos países e gentes no mundo que a estão a aprender. Diz-se que, em periodos de crise, há necessidade de pulsos fortes...Mas a força exercida magoa demasiado para que seja suportada para sempre. Mas é bom que o tal medo exista, por enquanto, é necessário que se fale dele. Para que continuem a existir «bons» que lutem contra os «maus». O que é perigoso é a aceitação das coisas sem questionamento. Todos os heróis da humanidade, homens,mulheres ou povos, lutam contra as tiranias.
Enviar um comentário