Espantoso momento de Birgit Nilsson cantando a Morte de Isolda! Não o ouvia há anos, apesar de ter a ópera em casa...Espantoso, também, pela forma como captou o público, completamente «encantado», em completa catarse perante a beleza da música, do canto germânico wagneriano que continua, incólume, belo e terrível, a atravessar os tempos. Não há Verdi que se lhe compare, por mais belas árias que tenha produzido. Wagner, na boa tradição germânica, captou aquilo que de mais profundo existe na cultura ocidental e que é o desejo de morte, não da morte banalizada do dia a dia e que faz parte de todos nós, mas de um morte «transfigurada», da «noite obscura» de São João da Cruz, de uma «morte» que eleva e transporta a Algo que nos é superior, que nos transcende. Que nos une, a ela, Isolda, e a ele, Tristão, numa metamorfose mística que é, no fundo, o que verdadeiramente conta.
De facto, é uma interpretação extrordinária, tensa e dilacerante, como se a alma se rasgasse para a revelação do essencial. Na ópera italiana, há um execeso de pathos social, mas aqui estamos nesse caminho que nos leva, através da música, do mundo físico para o mundo metafísico, mesmo se este não é diferente do mundo físico.
Escarnecido, abandonado, sofrer mil vezes no tempo. Nada ter, nada poder, nada ser, eis o meu esplendor. (Angelus Silesius, Cherubinisher Wandersmann, II, 244)
2 comentários:
Espantoso momento de Birgit Nilsson cantando a Morte de Isolda! Não o ouvia há anos, apesar de ter a ópera em casa...Espantoso, também, pela forma como captou o público, completamente «encantado», em completa catarse perante a beleza da música, do canto germânico wagneriano que continua, incólume, belo e terrível, a atravessar os tempos. Não há Verdi que se lhe compare, por mais belas árias que tenha produzido. Wagner, na boa tradição germânica, captou aquilo que de mais profundo existe na cultura ocidental e que é o desejo de morte, não da morte banalizada do dia a dia e que faz parte de todos nós, mas de um morte «transfigurada», da «noite obscura» de São João da Cruz, de uma «morte» que eleva e transporta a Algo que nos é superior, que nos transcende. Que nos une, a ela, Isolda, e a ele, Tristão, numa metamorfose mística que é, no fundo, o que verdadeiramente conta.
De facto, é uma interpretação extrordinária, tensa e dilacerante, como se a alma se rasgasse para a revelação do essencial. Na ópera italiana, há um execeso de pathos social, mas aqui estamos nesse caminho que nos leva, através da música, do mundo físico para o mundo metafísico, mesmo se este não é diferente do mundo físico.
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