27/02/08

Ramiro Marques - Haverá um objectivo escondido nisto tudo?

Tenho recebido dezenas de e-mails de colegas que afirmam que a crueldade deste processo de avaliação tem um objectivo escondido: infernizar a vida dos professores titulares que têm entre 53 e 56 anos, forçando-os a desistir da profissão por exaustão e a pedir a aposentação antecipada, sujeitando-se a uma penalização entre 30 e 40% do valor da reforma. Com isto, o Governo poderá anunciar que conseguiu reduzir 70.000 funcionários públicos, cumprindo o desígnio da redução da despesa pública à custa dos professores [Ramiro Marques].
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Não gosto de processos de intenção, mas este governo é o mais frio e impiedoso que recordo, e já recordo muitos. A tentativa de destruição da imagem pública dos professores foi metódica e sem contemplações. Nunca um corpo profissional foi tão vilipendiado em Portugal. Também é preciso perceber que muitos desses ataques surgem da «sociedade civil», mas todos sabemos de onde vem a mão. Este governo, dito socialista, fez o que há de mais abjecto: escolheu uma vítima sacrificial para atingir os seus objectivos políticos. Os professores foram, desde a primeira hora, essa vítima escolhida para ser imolada ao esplendor e glória da governação de Sócrates. A coisa não vai parar por aqui. Os algozes, sem o sangue da vítima, temem não aplacar a ira dos deuses. Só pararão se perceberem que têm mais a perder do que a ganhar, caso contrário não hesitarão um segundo. Isto é política, quero dizer: conquista e manutenção, por qualquer meio, do poder.

1 comentário:

maria correia disse...

Ainda hoje, em conversa de café, se falou sobre este ataque aos professores, sobre o descrédito instalado em relação à classe. É óbvio que todo este processo e ataque se inscreve numa política de mercadorização do ensino, a longo, senão a médio, prazo, e que o governo autoritarista de Sócrates e dos seus congéneres ligados ao neoconservadorismo e à destabilização do ensino público, favorecendo interesses do «mercado do ensino» encontrou um bode expiatório. É claro que muitos dos professores não aguentarão a carga a mais, numa profissão já de si desgastante, e que irão para reformas antecipadas perdendo parte de uma vida interira dedicada ao trabalho, isto é, àquilo a que se dedicaram: ensinar. É óbvio que, com isso, o estado arrecadará mais uns milhões para colmatar uma situação financeira que não tem, de todo, a ver com a dedicação e o trabalho de milhares de pessoas durante anos. O que não me parece tão óbvio é este mal-estar instalado e que se converte numa ou noutra manifestação e protesto mas que se não ergue mais alto e com mais força a dizer: NÃO.