24/02/08

As manifestações de professores contra a irracionalidade

As manifestações de professores, não enquadradas politicamente, ocorridas ontem em Leiria, Caldas da Rainha e Porto são apenas a ponta, uma pequena ponta, de um enorme iceberg de descontentamento que lavra entre os docentes portugueses. Basta frequentar a sala de professores, de qualquer escola, ou conviver com quem exerça a profissão para perceber que o mal-estar é absolutamente generalizado. Mas o que querem os professores? Talvez aquilo que os una neste momento é o que não querem.

O que não querem é uma escola absolutamente irracional, de onde o velho senso comum desapareceu substituído por uma espécie de revolução permanente à velha maneira trotskista. Os estatutos da carreira docente e do aluno, a nova forma de gestão e o que se conhece dos documentos para avaliação de professores configuram uma escola em permanente mobilização. Mas mobilização para quê? O problema reside aqui. A mobilização não tem em vista uma maior qualidade científica do ensino, nem um maior grau de exigência.

A mobilização visa-se a ela mesma: os professores passam a vida em reuniões, a preencher grelhas, a traçar planos e a promover projectos para serem avaliados. A escola do Engenheiro Sócrates e das gentes que tomaram conta do Ministério da Educação não visa ensinar, mas pura e simplesmente avaliar-se e avaliar os professores, não pelo que ensinam, mas pelo grau de mobilização na vida burocrática da escola. O que une os professores é o total desespero perante a irracionalidade que tomou conta da profissão desde que o actual governo chegou. O que une os professores é a convicção, certamente desprezível para o governo, de que a sua missão se centra na transmissão do saber e não em qualquer outro lado. O grito dos professores é um apelo dramático para que não destruam definitivamente a sua profissão e, assim, as novas gerações possam ainda ter acesso ao saber.

Por estranho que possa parecer a muitos, a defesa dos interesses dos alunos enquanto alunos passa pela defesa da razoabilidade da profissão docente. Aquilo que está em causa na revolta dos professores não é apenas o seu interesse, mas, e acima de tudo, o dos seus alunos actuais e futuros. Para que amanhã ainda possa existir uma escola pública que ensine alguma coisa.

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