20/02/08

Educação, três anos de governo

Sobre a escola portuguesa caiu um monstro. Esse monstro devora tudo o que se liga ao saber e àquilo que é inerente à apreensão do saber. A escola portuguesa transformou-se numa espécie de empresa, com uma organização burocrática que tenta imitar a eficiência do mundo económico. O grande problema é que o ensino e a educação estão mais próximos da religião (a sagração do saber e dos valores ideais, não os reais, da comunidade) e da arte (o acto de ensinar é análogo ao que faz o poeta com a língua ou o pintor com a cor e a luz, e pouco ou nada tem a ver com as operações técnicas do mundo empresarial).

Mas doloroso é ver alguns professores a cooperarem na destruição daquilo que faz a dignidade da sua função. Agem como se uma cegueira tomasse conta deles e os atirasse contra os colegas, tentando destruir o senso comum que a profissão foi construindo ao longo de séculos. Contrariamente ao que pensam os «inovadores», os parâmetros da acção do professor estão definidos ontologicamente desde os tempos da Grécia Clássica. O conflito que atravessa a educação portuguesa centra-se nos professores que permanecem fiéis à longa tradição de ensino ocidental e aqueles que, combinando uma estranha retórica revolucionária, liberal e burocrática, pretendem destruir o bom senso que a tradição legou.

Apesar da maioria dos professores, ainda que de forma intuitiva, se identificarem com essa longa tradição, as escolas começam a ser dominadas, devido à pressão política, por uma casta de professores burocratizados, cheios de «pedagogês» e de «gestionês», mas pouco atentos à essência simples da sua profissão. Neste momento, depois de três anos de governação, pode-se fazer um balanço sobre a escola portuguesa. Ela estava doente, agora encontra-se absolutamente moribunda. A seiva sã que ainda a animava foi sugada e no seu lugar corre a mais torpe e hedionda burocracia. Não por acaso começam a crescer as escolas privadas. Dentro de pouco tempo, a escola pública estará dizimada e, ao lado dela, haverá escolas privadas que devorarão os alunos com recursos e com apetência pela aprendizagem.

O trágico, porém, é que a escola pública tenha morrido à mão do Partido Socialista e de alguns professores. Aqueles que mais a deveriam ter defendido são os que, sem apelo, a estão a assassinar. Se quisermos falar das escolas públicas deveremos usar as seguintes palavras: Requiem aeternam dona eis, Domine.

1 comentário:

Anónimo disse...

três anos de metodologias sociológicas atiradas para a Escola. Três anos de descredibilização e tacticas estatisticas que aparentem ter mudado aquilo que custa assumir: hoje sabe-se menos que antes, aprende-se menos que antes, estuda-se menos que antes porém as crianças e jovens são reféns fisicas do espaço escola que lhes ocupa tempo e espaço evitando assim que eles brinquem ou desejem...
A Arte é como a escola e faz-se no fazer por muito que a teoria a proceda só existe quando se torna obra.
Obrigado pelos seus sinais, o seu olhar o Mundo é limpo!