O lastro
A notícia da detenção de dois suspeitos de um crime violentíssimo ocorrido na zona de Torres Vedras gerou, mais uma vez, uma catadupa de comentários. Estes comentários feitos, na sua grande maioria, a coberto de um suposto anonimato deveriam ser de leitura obrigatória por parte dos dirigentes políticos. Um crime violento é sempre ocasião para que venha ao cima o que há de pior em nós. Caso a caso, esta reacção popular é inócua, mas lentamente e com o acumular dos casos, a que se junta uma forte desconfiança no sistema de Justiça, ela vai construindo um substrato psico-social onde se podem alicerçar coisas muito desagradáveis. Estas caixas de comentários, como já aqui disse, são a nova forma da voz do povo. E a voz do povo é continuamente um apelo à justiça pelas próprias mãos, como se os nossos tribunais fossem já incapazes de fazer reinar a ordem e proteger e restabelecer, através do direito penal, a paz pública. Parece que estamos a criar, com o nosso proverbial deixa-andar, o lastro para a intolerância, o racismo, a xenofobia, o lastro para uma deriva securitária.
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