03/08/09

M. S. Lourenço - O sentido da vida

Para voltar ao problema de base, a questão a colocar é a seguinte: Qual é a ideia de Brouwer que eu adoptei e fiz dela um factor de orientação para a minha vida?

A ideia básica é que neste momento da história da humanidade já se atingiu um estádio de hipertrofia de interacção social. Não se deve por isso colaborar numa expansão desta hipertrofia, a qual se destina a legitimar os objectivos triviais da civilização de massas. Deve-se por isso renunciar a posições de leadership na já descontrolada hipertrofia da civilização de massas, exercendo a mencionada abstinência de participação em cliques ou lobbies, quaisquer que eles sejam.

Sigo assim Spengler, Brouwer e Wittgenstein na convicção de que o nível de entropia na cultura actual, e o seu consequente processo de desintegração, é neste momento irreversível e que a explosão demográfica, a sobreprodução industrial e científica e a exploração criminosa da natureza atingiram as próprias condições físicas da sobrevivência no planeta. Assim a humanidade, depois da sua morte espiritual pelas mãos da indústria da cultura, terá a sua morte física pela impossibilidade de viver no planeta, e por isso a sua escatologia vai ser em tudo igual à de uma colónia de bactérias que desaparece da face da terra depois de cumprir um limitado ciclo de vida
. [Miguel Tamen (2007). Uma entrevista a M. S. Lourenço]

Sem comentários: