14/08/09

Do novo regime

Ainda não consegui compreender, certamente por limitação minha, a ânsia que existe em certos sectores por aquilo a que chamam um novo regime, ou outro regime, ou outra coisa. A ideia do novo regime, de um regime presidencialista, é uma reformulação do messianismo sebástico. Mas, para além da referência à mitografia nacional, o que mais pode oferecer um novo regime? Não pode alterar o povo que somos, e logo aí 95% da virtude do novo regime se desvanecem. Restam 5%. Dizem respeito ao pastor do povo, o miraculado Presidente a vir com o novo regime. Mas onde iríamos nós buscar essa ditosa pessoa que nos salvaria de nós próprios? Não estou a ver onde, a não ser à classe política, às gentes que pululam no PS e no PSD. Com um novo regime, como é moda agora querer, a vigorar, talvez o Presidente-Rei e primeiro-ministro se chamasse José Sócrates. Um Sócrates ainda mais exuberante, sem o contraponto de Belém nem o aborrecimento de ter de ouvir seriamente os deputados, valham estes o que valerem. O problema fundamental não é de regime. Os mesmos vícios e as mesmas escassas virtudes estiveram presente no constitucionalismo monárquico, na primeira República, no Estado Novo, na República actual. O que variou foi o uso do cajado pelo pastor, umas vezes mais brando, outras mais duro. A essência não muda, pois como se sabe, desde o velho Platão, as essências são eternas e imutáveis.

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