25/08/09

Economia, História e Filosofia

No Ladrões de Bicicletas, há um post muito interessante feito a partir de uma questão, levantada em Novembro na London School of Economics, pela Rainha Isabel II. Perguntava a soberana "como é que ninguém viu aproximar-se a crise?" O texto do Ladrão de Bicicletas Jorge Bateira é interessante e remete para um conjunto de outros textos internacionais que merecem ser lidos. Ressalto apenas uma tese. O que teria impedido os economistas de prever, com raras excepções, a crise seria a sua frágil formação em História. A Economia terá seguido um caminho de afirmação de modelos matemáticos, em detrimento do saber histórico. Ora, o que se passa é que esses modelos matemáticos são uma espécie de Ideias puras platónicas, e por isso encontram-se desligados do mundo sensível, onde a vida e a economia real decorrem. Sendo assim, não basta uma formação fundada em princípios gerais de Economia e em Matemática. A História, entre outros saberes, é fundamental para fazer uma análise do real. Na minha ignorância desse saber esotérico que é a Economia, partilho plenamente desta opinião do autor do post. A História é uma disciplina essencial para a compreensão do real, seja político, seja social, seja económico. A História mostra a diversidade das vias da vida económica, coisa que não parece aceite por muitos economistas. Estes, em última análise, escondem-se na modelização matemática para impor uma determinada visão da economia, e mostrá-la como a única possível. Mas não é apenas a História que está em défice. É também a Filosofia. Pensar e raciocinar são coisas muito diferentes. O que se passa é que os economistas, partindo de modelos matemáticos, se limitaram a raciocinar dentro do esquema lógico de onde partiram. Mas pensar é abrir-se para o que ainda não está pensado, para o impensado e, muitas vezes, para o que parece impensável. Não basta a História para se saber pensar economicamente. A História será uma condição necessária, mas não suficiente. Ela fala-nos do passado, transforma-o em exemplo. O futuro, porém, ainda não é exemplar, ainda não foi pensado. Ele é do domínio do impensado e foi isso que, para além da informação histórica, faltou. Por detrás da Economia subjazem modelos filosóficos que não são explicitados e, por isso, não suscitam debate e pensamento. A Economia, sem abandonar a Matemática, precisa de retornar à História e, fundamentalmente, aquilo que lhe deu origem, a Filosofia. A crise não foi prevista porque o pensamento foi substituído pelo mero raciocínio.

1 comentário:

utopia-x-7 disse...

Pois aqui temos o resultado de uma sociedade que apostou na tecnocrácia e no economicismo. Há mtos anos, na feira do livro da minha terra, Manuel da Fonseca, escritor neo-realista, escolheu-me como interlocutora para fazer o seu discurso. Ele previu tudo isto. Eu acreditei; por isso não foi tão esmagador para mim toda esta conjuntura que veio denunciar o défice estrutural desta economia, que já todos adjectivam negativamente.