Nuno Ribeiro
Nuno Ribeiro
Esta casa não está transformada num blogue de ciclismo. Mas ter andado todo o tempo da Volta a fazer postagens sobre ciclismo e não haver uma referência à Volta deste ano, parece-me excessivo. É um facto que há muitos anos deixei de me interessar por este desporto, como pela generalidade dos outros. A paixão desportiva tem a sua pátria nessa terra encantada que é a infância e a adolescência. Depois, ou se desenvolve a razão e se olha com outros olhos as competições desportivas, ou a pessoa recusa-se a crescer e prolonga até à morte a atitude agonística presente em toda a paixão pelo desporto. Calhou-me, talvez com pouco mérito meu, a primeira hipótese. Olho com alguma razoabilidade para o fenómeno desportivo e, confesso, que ele já pouco me emociona. Mas essa terra encantada da infância persiste dentro de nós e é ela que me chama quando escrevo sobre o ciclismo. É também uma outra coisa. O ciclismo, aliás como o futebol, vieram até mim por intermédio do meu pai. Escrever sobre estas coisas é uma forma de me sentir próximo dele, uma espécie de culto aos mortos, aos mortos significantes. Aqui fica, assim, a homenagem ao homem que hoje ganhou a nossa pequena Volta. Não será pior nem melhor que os meus heróis de há quarenta anos, mas nunca terá lugar, por culpa da idade que tenho, no panteão da minha memória.
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