09/07/07

A vaia do Estádio da Luz

Há 30 anos, no Porto, assisti a uma vaia monumental dirigida a um primeiro-ministro. Foi no Estádio das Antas, na final da Taça de Portugal, entre o FC Porto e o SC de Braga. O FC Porto ganhou por 1-0 e Mário Soares, quando desceu da tribuna em direcção ao relvado, para entregar a taça aos vencedores, recebeu uma formidável pateada. Os tempos eram conturbados. Em 1977, o país começava a recompor-se dos anos da revolução e as posições estavam muito encrespadas. Em breve, Soares seria substituído na governação por Sá Carneiro e a AD.

Tudo isto vem a propósito da vaia, enorme segundo quem lá esteve, que o público do Estádio da Luz, no espectáculo sobre as “Sete Novas Maravilhas”, entendeu dispensar ao Eng.º José Sócrates. Entre as duas vaias há uma diferença abissal. Com Mário Soares era ainda o mundo escaldante da revolução que vinha ao de cima, era o norte conservador que apupava o sul progressista. Com Sócrates as coisas são diferentes. Não é o sul ou o litoral progressistas que assobiam o interior reaccionário.

Mais do que política, a vaia do Estádio da Luz significa o cansaço dos portugueses perante a elite governativa. Cansaço de quê? Da sua política? Também, mas não só. Sócrates e o governo encresparam o país, puseram portugueses contra portugueses, são arrogantes e displicentes para com muitos dos seus eleitores, mostram desprezo pelos fracos, são complacentes e subservientes com os fortes, desprezam a liberdade de expressão. A assobiadela do Estádio da Luz é uma reprovação moral do governo. Mas esta reprovação moral não é apolítica. Pelo contrário, é a reprovação pela forma imoral como este governo faz política. O “10 de Junho” foi apenas o começo, o Estádio da Luz é a continuação...

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