Arqueologias - Eusébio da Silva Ferreira
Os meus anos de formação, como acontece com a maior parte dos seres humanos, foram preenchidos com múltiplos heróis. O herói fornece um arquétipo ao comportamento, permite a leitura do mundo, traça um horizonte de possibilidades, imaginárias na verdade, que estruturam sonhos e representações. Para além dos heróis familiares, presenças tutelares do passado e fonte de autoridade, havia os heróis mundanos. O maior de todos – nesses anos que frequentei aquilo que hoje, de forma tão rasa, se chama escolaridade básica – foi Eusébio. Mal sabia falar, mas dentro dos estádios era um jogador extraordinário.
Depois uma pessoa cresce e os heróis passam a ser outros, por vezes bem mais negros, ou deixa de ter heróis. No entanto, até hoje, Eusébio da Silva Ferreira nunca me desiludiu. É um grande homem, porque tendo sido a estrela que foi, nunca quis ser o que não era. A modéstia, a amizade com que sempre se refere a companheiros e adversários, a ligação ao seu clube, o seu ser português, tudo isto mostra que Eusébio é muito mais do que um ex-grande jogador de futebol. Fica aqui um registo arqueológico com múltiplas camadas de sedimentos.
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