Uma aventura
Uma aventura esta história do Magalhães. Quando a coisa surgiu com o nome do navegador, pensou-se que seria uma espécie de metáfora. Assim como o navegador português dirigiu a primeira viagem de circum-navegação, também as crianças portuguesas circum-navegarão a globalização embarcadas no pequeno computador, a caravela dos nossos dias. Mas não. O que está em causa é apenas a dimensão da aventura, entendendo-se esta como uma acção da qual não se sabe ou não se mediu as consequências. Agora, não bastava já a história dos dinheiros da acção social escolar, a União Europeia está convencida que a adjudição directa dos Magalhães à JP Sá Couto é ilegal. Isto é grave.
Mas nesta aventura, a gravidade maior não está aí, na questão económica. Está no próprio projecto. Distribuir gratuitamente, ou quase, os computadores é um péssimo sinal. Fazê-lo sem que as escolas tenham, de facto, possibilidade de tirar partido do instrumento é ainda pior. O projecto mereceria todo o aplauso se significasse o equipamento de todas as escolas do 1.º ciclo com o Magalhães (um por aluno) e ligação de banda larga à Internet. Ao que se deveria adicionar uma programação da utilização didáctica do computador, nas várias áreas curriculares, e a construção de materiais didácticos a serem explorados em sala de aula. Por exemplo, seria muito interessante que os alunos do 1.º ano aprendessem a escrever ao mesmo tempo no computador e manualmente (embora isso devesse ser primeiro testado em pequenos grupos e só depois generalizado).
Os Magalhães, tal como foram distribuídos, não têm utilidade educativa, pois não existem nas escolas e os alunos que os têm não podem ser obrigados a levá-los para a sala de aula, promoveram, mais uma vez, o sentimento de dependência do estado bondoso que tudo oferece, e desincentivaram o esforço de alunos e famílias. Apenas serviram como propaganda do governo. Uma aventura, cara ainda por cima.
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