O papel essencial de Cassandra
Eu sei que da parte do governo, e mesmo da oposição, se olha com complacência as tomadas de posição de Medina Carreira. São diatribes de um velho que perdeu o contacto com a realidade, pensa-se, dentro da classe política, para aliviar o peso da consciência, se ainda há algum. No entanto, aquilo que o antigo ministro das Finanças diz faz todo o sentido (ler aqui ou aqui). A crítica radical que faz ao programa Novas Oportunidades só peca por ser demasiado benévola. Aquilo é, para o país, bem pior do que uma simples «aldrabice» e uma simples «trafulhice». Também a crítica que faz à educação é demasiado benevolente. A educação não está uma «miséria». A educação está pervertida. Os princípios que a orientam estão completamente errados. Também a crítica ao parlamento e aos parlamentares, apesar da contundência, acaba por ser suave. O problema não é só o facto de ninguém, com medo do chefe partidário, não miar. O problema central é que os representantes deixaram efectivamente de representar os representados. Isto significa que a democracia representativa está morta. Seja como for, o papel de Cassandra que Medina Carreira decidiu vestir é social e politicamente fundamental, pese o desagrado das múltiplas Clitmnestras que por aí há.
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