Quotas e outras batotas
Há uma falta de honestidade essencial na relação do governo com os professores. A questão das quotas na avaliação, do ponto de vista da apreciação do mérito, são uma mentira sem fim. Aliás, a própria avaliação, a que vai acabar ou a que vai entrar, não discernirá o mérito de quem quer que seja. Mas a desonestidade governamental, desonestidade que passou do anterior para o actual governo, deve-se a um pormenor que não é assumido publicamente. Não há dinheiro para pagar os salários dos professores. O país não gera riqueza para tal. Isso não é assumido porque o problema não diz respeito apenas aos professores. Não há dinheiro para pagar como se paga aos juízes, aos militares, aos universitários, aos médicos, aos enfermeiros, às chefias e aos quadros superiores da função pública, não há dinheiro para pagar a maior parte dos salários dos funcionários públicos, centrais e locais. Não há dinheiro para tanta gente dependente do Estado. Não há dinheiro para pagar muitas das reformas que o Estado tem de pagar a antigos servidores. Não há dinheiro para tanto assessor e chefe de gabinete que as classes políticas, locais e centrais, criam para assegurar o seu poder. O governo anterior pensou que proletarizando os professores estabelecia um pacto de silêncio com os outros corpos servidores do Estado e que o regabofe poderia continuar. Não resolveu problema nenhum e criou um enorme conflito com os docentes.
As coisas chegaram a um ponto que vai, mais tarde ou mais cedo, ter de se mexer na constituição para poder anular certas direitos conquistados, pelo simples motivo que não há dinheiro para os pagar. Sócrates teve uma maioria para fazer isso. Preferiu escolher um bode expiatório e fingir que resolvia o problema. Um dia destes acordamos e estamos na Argentina de há uns anos atrás. Sócrates tornou-se um impecilho, até para o seu próprio partido. O pântano cresce todos os dias. Portugal está gravemente doente. Está a chegar a hora em que a batota já não consegue encobrir a incompetência que tomou conta do país desde que entrámos na CEE. Sim, Cavaco foi o primeiro culpado disto a que se chegou. Os outros têm sido uns meros continuadores da desgraça que se começou a desenhar no cavaquismo. Fingir-se civilizado, só porque os outros nos dão muito dinheiro para fazermos auto-estradas e rotundas, deu nisto. Vamos pagar duramente.
1 comentário:
Criaram duas leis trabalhistas, duas leis para a sobrevivência. Uma com regalias para funcionários públicos, que se aposentam e continuam a receber o salário da ativa e não podem ser despedidos, mesmo os incompetentes. E outras mais, do “regime jurídico único”.
A outra, a lei trabalhista propriamente dita, serve de base à justiça, que não existe. Sem igualdade não há justiça em lugar algum.
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