13/12/09

Insuportável



Casas-abrigo para mulheres e crianças não chegam para as encomendas. O que se passa em Portugal é absolutamente insuportável. A violência dentro da família ou das relações ditas amorosas é uma doença social gravíssima, mas também um sintoma claro sobre a masculinidade desses heróis que batem desalmadamente e matam pessoas mais frágeis. Chegou a altura de o assunto ser tratado de outra forma. Em primeiro lugar, há que reconhecer que ainda está longe de ser um estigma social bater numa mulher, pelo contrário. Muitas vezes o herói em vez de ser visto na cobardia que o constitui é olhado com aprovação, quando não mesmo com respeito. Sempre é um "homem que sabe pôr as gajas no devido lugar". Este saber é especialmente apreciado nos lugares mais inusitados. Não se pense que isto se passa apenas nos sectores deprimidos socialmente ou sem instrução. Não passa. Em segundo lugar, a lei deve endurecer, mas mais do que isso a acção da justiça deve ser revista. Muitas vezes, e apesar dos alertas que a vítima vai emitindo, só quando ela é assassinada é que a polícia e a o aparelho judicial intervêm. Há que tornar insustentável esta cultura degradante e cobarde. No fundo, uma cultura de homens que não gostam de mulheres.

4 comentários:

Margarida Tomaz disse...

Gostei muito deste texto. E como foi escrito por um homem ainda gostei mais. É demasiado real e natural essa cultura da força no masculino. Por isso é aceite e motivo, em muitos casos, de vanglória! No século XXI o fosso entre o discurso político e a realidade é gritante! E a passividade da sociedade ainda mais!

Alice N. disse...

"Homens que não gostam de mulheres" - esta frase diz muito. Tudo isto é tão brutal e insuportável, de facto. É talvez das notícias que mais de doem. Quantas mais sofrererão em silêncio? Como é que um homem se pode identificar como tal quando bate numa mulher?

Alice N. disse...

Correcções: "me doem"; "sofrerão"

Anónimo disse...

E também uma cultura de mulheres que não gostam de si próprias. O problema não é apenas a violência estúpida dos homens, que, por vezes, até «gostam» das mulheres, mas das próprias mulheres que permitem que lhes batam nem que seja uma vez e que, até «gostam» desses homens.