11/12/09

Um equívoco semântico


Aquilo a que hoje se chama universidade só por equívoco tem esse nome. Segundo os dirigentes empresariais, os jovens licenciados correspondem cada vez mais ao que as empresas procuram. Merece ser lido o artigo do i. Ele é, apesar da aparência em contrário, uma demonstração da tese que se defende aqui. A universidade, contrariamente ao que se pensa, não deve servir para fornecer mão-de-obra, mesmo que de carácter cognitivo, às empresas. A universidade significa o lugar onde se educa alguém para se elevar a um ponto de vista universal. A preparação para o mercado de trabalho, para as empresas, é apenas uma preparação particular para funções particulares, mesmo que estas sejam amplas. Não se está aqui a argumentar a favor do desaparecimento dessa formação. Pelo contrário, essa formação deve ser ainda mais ampla, abranger mais pessoas e ter melhor qualidade. Não lhe chamemos, porém, aquilo que ela não é. A universidade, por seu lado, deveria encolher drasticamente, concentrando-se nas actividades de produção de saber. As universidades não se devem aproximar das empresas, devem mesmo fugir delas a sete pés, caso não queiram perverter o seu sentido. No entanto, as instituições de ensino que preparam jovens para serem engenheiros, economistas, gestores, designers, etc. devem estar em íntima relação com o mundo empresarial.  Chamar-lhes, porém, universidades é um lamentável equívoco semântico, cujas consequências serão a destruição do que resta da verdadeira universidade. É o que acontece no mundo ocidental, onde a universidade, aquela que ainda trata de questões universais, se rege agora pelo particularismo das empresas privadas. Um dia destes, aquilo a que se chama universidade não será mais do que uma espécie de prolongamento das antigas escolas industriais e comerciais.

1 comentário:

zemanel disse...

Completamente de acordo.Pensar a Universidade procurando que ela esteja de acordo com as necessidades do mercado é retirar-lhe o carácter humanista, universal, limitar-lhe o âmbito, retirar-lhe o estudo das letras e das artes e sobretudo despojá-la do espírito científico fundado na investigação, na dúvida e na incerteza - coisas que os mercados abominam.
Mas em Portugal há lugar para isso? pode-se viver disso?
Se houvesse mais institutos de pensamento ( filosófico, sociológico e politológico), museus, bibliotecas, Fundos Documentais, Arquivos, Centros artísticos...no entanto parece que estamos condenados a um sistema de ensino subordinado à Engenharia e à Gestão!